quarta-feira, julho 22, 2015

Fotos coloridas e conflito social

A modinha já passou. O casamento gay nos EUA já é uma realidade e as pessoas já se cansaram de discutir isso no Facebook. Mesmo assim, este texto é relevante, já que aborda um comportamento que, embora comum, pode tornar-se perigoso para uma sociedade.

Inicialmente, eu estava pensando em explicar a adesão maciça ao ativismo gay nas redes sociais, os tais “coloridos" do Facebook, por meio de um simples modismo no qual boa parte dos participantes teria entrado mais por conformismo ou para parecer uma pessoa esclarecida do que realmente para concordar com uma conquista dos gay rights. No entanto, seria uma explicação muito feijão com arroz dentro do comportamento humano, embora não deixe de ser uma explicação digna de atenção.

Afinal, o conformismo é um dos fatores explicativos mais comuns de todos os tipos de comportamentos sociais humanos. Estamos instintivamente predispostos a concordar com alguém e a participar de torcidas. Aqueles que se vangloriam por aderir à moda dos coloridos racionalizam isso em nome de um avanço sócio-politico ou em nome da liberdade, diversidade e do amor. Aqueles que são contra dizem que é melhor se preocupar com a fome na África. Tanto um quanto outro pensamento são apenas racionalizações, discursos usados para justificar um comportamento que na verdade é mais instintivo do que resultado de uma ponderação racional e imparcial.

Tudo muito normal dentro do comportamento humano, mas isso não significa que algumas dessas coisas sejam imunes à críticas, pois conformismos e anti-conformismos extremistas são perigosos; e tendem a produzir atitudes perigosas que podem ameaçar a nossa civilidade. 

Logo, minha tese aqui é a de que alguns movimentos sociais e ideologias políticas estão adotando uma norma de polarização de opiniões com a intenção de gerar conflitos até então inexistentes em nossa sociedade.

Colorir a foto não é o problema. O problema é querer provocar os outros, acusando as pessoas de serem criminosas homofóbicas e de cultivarem o ódio. No geral, as pessoas não sentem ódio contra homossexuais, embora saibamos que existe gente que sente. No entanto, também sabemos que é uma minoria bem pequena e que ela não justifica tamanha generalização.

Normalmente, a maioria das pessoas apenas ignora, deixando essa história de homossexuais pra lá, pois não é um assunto que necessite de um debate acirrado. Há coisas mais importantes para se preocupar. A maioria sabe que sempre existiram homossexuais no mundo e certamente não concorda com esse tipo de prática sexual, embora não pretenda proibir os gays de fazerem o que quiser com seus corpos e com quem quer que seja, desde que haja consentimento entre as partes, claro. Dentro de uma sociedade onde existe a liberdade individual, pensar dessa forma é comum. Cada um faz o que quer, desde que não interfira no direito do outro. Acredito que esse seja o pensamento da maioria.

Porém, algumas pessoas do ativismo gay pretendem acusar toda a sociedade de ser homofóbica, dizendo que toda ela está repleta de normas heteronormativas e que isso precisaria ser alterado. 

Quando o ativismo busca o respeito para com homossexuais e o fim do preconceito, considero essas ações louváveis e positivas, já que a orientação sexual não define caráter ou valor do indivíduo como ser humano. A intolerância e a violência deve ser combatida.

Porém, quando o ativismo propõe dispositivos jurídicos que colocam gays acima dos outros cidadãos (cotas para concursos, por exemplo), quando o ativismo procura achincalhar os valores e as normas da maioria, como podemos ver em alguns protestos e paradas gay (como os santos católicos em posições eróticas gays), há um problema nisso que vai além da falta de respeito: há uma intenção de enfrentamento que pode gerar - e gera mesmo - correntes de opinião contrárias aos homossexuais em geral, as quais anteriormente inexistiam. Seria esse fenômeno algo proposital? Tudo indica que sim, e planejado pelos cabeças do movimento. Qual a razão de incitar o conflito e o ódio?

Quando isso ocorre, a maioria das pessoas acaba confundido tudo. Por um lado, se um homossexual não colorir a foto do Facebook, outras pessoas - gays ou não - vão questioná-lo de forma agressiva, o pressionando a aderir à modinha, como de fato aconteceu com alguns gays que não concordam com as intenções do ativismo. 

Por outro lado, indivíduos que anteriormente não se importariam com esse assunto, começam a lançar ataques opinativos contra homossexuais em geral. Isso ocorre pois as pessoas não conseguem separar as coisas. Uma coisa é o homossexual. Outra coisa é o ativismo político gay, o mesmo que celebrou a decisão da Suprema Corte americana, o mesmo que deseja implantar o casamento gay em todos os países, o mesmo que deseja implantar educação sexual gay para crianças a partir de seis anos nas escolas aqui no Brasil.

O ativismo está roubando a voz dos gays que não concordam com o ativismo

Cada vez mais a voz de homossexuais que discordam da agenda política, incluindo-se aí o casamento gay, vem sendo calada e, pior, substituída. Não raro, muitos gays sentem-se atraídos pelo apelo dessa ideologia e, no lugar de ter uma opinião própria sobre assuntos relacionados à sua sexualidade ou à sua visão de sociedade, apenas adotam as premissas do ativismo político. Isso tudo representa um conformismo com tendência à polarização, o qual deve ser combatido.

Criticar o ativismo gay, uma ideologia, não é criticar a homossexualidade ou ser homofóbico, como muitos tentam sugerir. É muito comum ver alguns indivíduos fazendo acusações levianas desse tipo. Qualquer crítica ao ativismo gay é uma ofensa e motivo para processo judicial, sendo isso uma ameaça à liberdade de expressão. De fato, alguns dos maiores combatentes, contrários à essa ideologia, já foram processados por expressar suas opiniões. Alguns, como o pastor Silas Malafaia, foram absolvidos. Outros, como o ex-candidato à presidência da república, Levy Fidélix, foram condenados e estão recorrendo da decisão.

Quando uma sociedade decide resolver tudo com base em processos  judiciais, é um indício patológico de que está faltando confiança entre seus indivíduos; e parece ser exatamente essa a intenção de alguns movimentos sociais. Essa estratégia vem claramente de uma visão neomarxista de mundo, onde todas as relações dentro de uma sociedade capitalista implicam o conflito e a desconfiança. Está na hora de parar de cair nessa armadilha ideológica e de ficar nos agredindo por causa de polêmicas artificiais produzidas por movimentos ou ideologias. 


Não é com base no medo e na agressão que os gays, ou os negros ou qualquer minoria coitadinha inventada receberá mais respeito e aceitação da maioria. É necessário gerar um sentimento de união e confiança entre as pessoas. Não o contrário.

sábado, setembro 20, 2014

Lula é o cara!



- Esse é o cara! Eu adoro esse cara.– disse o presidente americano Barack Obama para o Lula, durante o encontro G20 em 2009. O carisma de Lula é inegável, mas nem sempre foi assim.

Para agradar a mídia e o público, o Lula teve que fazer alguns ajustes em seu comportamento, pois antigamente, no início de sua carreira política, ele não tinha uma imagem muito agradável. Sua pessoa geralmente era relacionada a um homem truculento e ignorante. Seu linguajar pobre e o fato de ter estudado apenas até a quinta série fazia todos duvidarem de sua competência para governar uma nação. Mas isso mudou.

Na campanha presidencial de 2002 ele adotou uma nova abordagem com o público, uma nova imagem, quase uma transformação de um monstruoso Mr Hyde num refinado Dr. Jekill. Tornou-se o “Lulinha paz e amor”, um político sorridente e conciliador, diferente do Lula agressivo e sisudo das eleições de 1989, quando recebeu de Leonel Brizola o apelido de “sapo barbudo”.

Embalado pelo sucesso da estabilidade econômica brasileira, pela reputação ilibada e pelos sucessos dos programas sociais, foi esse Lulinha paz e amor que recebeu os elogios do Obama naquele abril de 2009, ano em que foi produzido um filme no intuito de elevar ao status de santo a imagem do petista: “Lula, o filho do Brasil”, o transformando num exemplo de vida e superação, quando não numa espécie de messias.

Porém, embora o Obama só tenha dito aquilo mais para ser amigável do que para qualquer outra coisa (lembram do aperto de mão entre Obama e Raul Castro durante a homenagem a Mandela em 2013?) – o elogio do presidente americano já não condizia com a realidade; que nos mostra um Lula contraditório, tão contraditório quanto as personalidades do médico e do monstro.

O sucesso do programa Bolsa Família, tão cantado pelos entusiastas de seu governo e por ele próprio, era na verdade uma criação do governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, só que com outro nome. Na época de FHC, era chamado de Bolsa Escola. Mudar o nome e ampliar o programa foi um golpe de marketing para ganhar de vez a fama pela criação desse programa. E deu certo. Hoje muita gente pensa que o Lula é o criador desse programa e vai continuar votando no PT com medo de perder a bocada.

Mas essa não é a parte contraditória. Na campanha eleitoral de 1998, o próprio Lula havia criticado a criação dos programas sociais no governo FHC como sendo uma moeda de troca em tempos eleitorais, uma forma de se perpetuar no poder. Hoje quem se beneficie eleitoralmente é Dilma, sua cria política. Sim, ele enganou todos nós.

Ora, se o Lula tinha essa ideia sobre os programas sociais, por que, no lugar de extingui-los, ele os ampliou durante seu governo e até hoje faz campanha publicitária em cima disso?

Mas não foi só a fama dos programas sociais que o governo petista roubou do FHC. A estabilidade econômica (e eventuais conquistas no campo econômico) também é usada como um dos grandes feitos do governo petista. Muitos se esquecem de que o Plano Real (1994) foi implantado durante o governo de Itamar Franco, proposto pelo então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que reuniu diversos economistas no intuito de idealizar o projeto.

No campo econômico, a dívida do governo petista para o antecessor é tanta que, para garantir a vitória nas eleições de 2002, Lula escreveu um documento chamado “Carta ao povo brasileiro”. Nela, dentre outras coisas, ele abandonava o antigo discurso comunista e assumia o compromisso de manter a estabilidade econômica. Tudo para se desvencilhar daquela imagem do sapo barbudo sindicalista esbravejante.

Agora, os entusiastas lulistas e dilmistas pintam os governos anteriores como sendo um mundo de trevas, como visto recentemente numa propaganda divulgada na televisão, no início de 2014.

Essa atitude é previsível, embora represente uma contradição, pois foram justamente as ações realizadas nos governos anteriores que permitiram a atual estabilidade econômica que eles mesmos tanto elogiam. Isso sem falar nos discursos que envolvem os programas sociais, que representam uma contradição maior ainda.

Não preciso, aqui, falar muito a respeito da reputação ilibada do Lula, que recentemente assumiu diante das câmeras que mentia e falsificava dados sobre o Brasil na época em que era de oposição. Basta procurar o vídeo na Internet. É no mínimo revoltante ver o petista dizendo como mentiu descaradamente sobre números de aborto e de crianças-de-rua. O cinismo do ex-presidente petista é incrível. Já que sua desonestidade parece ser motivo de orgulho, tanto para ele quanto para seus seguidores, talvez sejam idiotas aqueles que pensam que ele não sabia nada a respeito do mensalão. Lula mentia; e há vários indícios para que acreditemos que ele ainda mente, principalmente quando algumas pessoas próximas a ele, pertencentes à cúpula do partido, estarem cumprindo pena no Complexo Penitenciário da Papuda, como o ex-guerrilheiro José Dirceu.

Isso é previsível. Ao assumir uma carreira política rumo ao poder, Lula teve que se sujar na lama organizacional que ocupa boa parte da classe política brasileira, demonstrando ainda hoje, e diante das câmeras, um orgulho de ter se sujado. Antes de chegar ao poder, a imagem do PT era limpa (ao menos a imagem). De fato, foi com a ajuda dessa imagem de combatente da corrupção e de amigos do povo que eles subiram. Hoje, no entanto, são comparados a uma quadrilha de ladrões, sendo chamados de “petralhas” aqui e acolá.

Mas pior do que a corrupção praticada pela classe política é a atitude daqueles cidadãos comuns, defensores de Lula e do PT, que no lugar de criticar o próprio Lula, por seus erros, e os membros do partido que se envolveram em corrupção, os aplaudem como heróis vítimas do sistema judiciário, como se os condenados pelo escândalo do mensalão fossem pobres coitados lutando por um país melhor, como se dilapidar o dinheiro público no intuito de se perpetuarem no poder fosse algum indício de altruísmo para com a nação.

Ou seja, o velho slogan relacionado a Ademar de Barros e mais recentemente a Paulo Maluf está bastante vivo na cabeça de muito petista: “O PT rouba, mas faz”. Eles sabem que o partido não presta, sabem que é corrupto, mas o apoia como se fosse composto por santos; e no fim das contas, o Lula não se parece tanto com “o cara” que muita gente pensa por aí.

sábado, fevereiro 01, 2014

Aborto, drogas e a lógica do desespero

Ultimamente, o lobby para a descriminalização do aborto e para a legalização da venda de drogas – especialmente a maconha – anda ocupando boa parte da agenda política de certos movimentos sociais e do debate público em geral. Apesar de serem duas demandas distintas, ambas se utilizam de discursos que, independente da validade de seus argumentos, obedecem a uma lógica do pessimismo e do desespero, ainda que possamos questionar até que ponto os próprios defensores desse lobby acreditam em suas próprias palavras ou se é apenas uma racionalização (encenação) para ludibriar os outros e validar suas intenções “libertárias”.

Em seus discursos, os lobistas demonstram sua total descrença nos métodos tradicionais de lidar com tais temas, alegando que esses métodos não são eficazes ou apresentam problemas. “Já que as mulheres estão realizando abortos clandestinos, vamos ajuda-las e descriminalizar a morte de seus filhos não nascidos em clínicas autorizadas”, diz uns. “Já que todo mundo está usando drogas ilícitas, vamos legalizar logo essas substâncias, vendendo elas em farmácias. A repressão ao narcotráfico não funcionou. É uma guerra perdida. A legalização é a solução para reduzir o crime”, dizem outros.

Estamos numa época em que se uma coisa tem um defeito, devemos descarta-la no lugar de consertá-la. Fazemos isso, seja com objetos seja com pessoas. Para alguns usarem esse mesmo pensamento em relação às leis, aos valores e à moral tradicional, é só um passo.

No entanto, é interessante como essa insistente descrença nas leis vigentes não serve para alimentar um mínimo de ceticismo a respeito de seus próprios projetos mirabolantes de descriminalização. Mas o pior de tudo é que, mesmo optando pelo descarte de uma ou outra lei, no lugar de se criar soluções alternativas e originais, se limitam a seguir a modinha da atualidade: liberar geral. É a orientação anti-proibicionista como solução para tudo.

No caso do aborto, a argumentação realmente parece ter uma preocupação legitima. As mulheres que desejarem abortar seus filhos poderão fazê-lo em hospitais e clínicas autorizadas no lugar de submeter-se a clínicas clandestinas onde as chances de algo dar errado são bem maiores. Nesse sentido, legalizar o aborto seria benéfico para essas mulheres. No entanto, essa solução – obviamente imoral – não parece ser a melhor para resolver o fato triste de que muitas mulheres estão abortando. Muita gente esquece (ou tentam nos fazer esquecer) que o problema não é a inexistência de clínicas legais especializadas em aborto, mas sim o próprio fato de essas mulheres estarem buscando o aborto fora dos casos já aceitos pela lei brasileira.

Logo, o que os ativistas favoráveis ao aborto desejam é a descriminalização plena do aborto, que poderá ser feito mediante qualquer motivo banal que vier à cabeça da mãe, coisa que nossa presidenta já era favorável bem antes de ser presidenta[1], em nome da liberdade de escolha da mulher sobre seu próprio corpo. Ocorre que esses ativistas não lembram que as mulheres já possuem essa mesma liberdade de escolha antes de ter as relações sexuais irresponsáveis que provocaram a gravidez indesejada. Afinal, não é preciso ser um gênio para saber que é bem mais fácil e sensato dizer não agora (ou usar métodos contraceptivos) do que realizar um aborto posteriormente.

A liberdade sexual como direito parece estar acima dos deveres e responsabilidades que as pessoas deveriam ter sobre o próprio corpo. A luta agora é pela institucionalização da imoralidade, pela liberdade individual irresponsável e sem culpa. Além disso, outros países mais desenvolvidos, como o Canadá, já descriminalizaram o aborto e isso deve ser bom, como acreditam alguns, como se o desenvolvimento do Canadá decorresse dessas políticas ou como se os valores alheios se justificassem pela riqueza de quem os possui. É bom ter cuidado. Sempre considerei a cautela uma virtude.

Na mídia, fazer sexo se tornou uma façanha a se orgulhar ou uma espécie de libertação em torno da qual tudo gira. Não fazer sexo se transformou em motivo para a tristeza. Em meados da década de 90, a porção mais influente da mídia brasileira começou a tratar a questão da sexualidade dos jovens e adolescentes no intuito de desmistificar (leia-se ridicularizar) a virgindade e destruir normas relacionadas à castidade e à valorização do corpo feminino, que ainda eram fortes em vários setores da sociedade brasileira, naturalmente conservadora.

Lembro-me que, na época, a telenovela Malhação seguia essa mesma linha e não tinha vergonha de explorar a imagem dos corpos dos jovens tanto nas aberturas como durante o enredo da novela. A apresentadora e cantora Xuxa também deu sua contribuição. Uma de suas músicas dizia: “Libera o corpo pra poder sentir. Os desejos, as vontades, o que pedir (libera). Canta mais alto, mostra tua voz. O que importa o que os outros vão pensar de nós. Libera geral, libera geral, libera geral (então libera)”[2]. Os adolescentes eram o alvo. Por algum motivo misterioso, a televisão e algumas revistas direcionadas para esse público diziam que eles podiam fazer sexo antes do casamento, como se isso fosse de alguma forma essencial para o crescimento deles. Liberar geral é mais exemplar do que estudar matemática.

Xuxa cantando "Libera Geral"

O fato é que não duvido que essa vanglorização do sexo sem compromisso na mídia, entre adolescentes e adultos, tenha contribuído para o aumento de quase 60% no número de mães solteiras no Brasil em 10 anos, conforme o censo do IBGE 2010. No fim das contas quem paga o pato por ideologias liberais no campo sexual sempre é a mulher, até quando ela acha que vai se dar bem.

Será que os efeitos da revolução/liberação sexual nos EUA nas décadas de 1960 e 1970 só começaram a chegar por aqui na virada do século? É provável. O fato é que a redução da apologia ao sexo na mídia já seria uma grande contribuição na redução do número de gravidezes indesejadas, as quais são a verdadeira causa dos abortos induzidos e, consequentemente, da busca por clínicas clandestinas. É claro que a mídia não possui total responsabilização, mas as pessoas de fácil manipulação, que engolem tudo o que ela dita, sim. O retorno de normas relacionadas à castidade e à valorização da mulher é uma solução moralmente mais viável e eficaz (não a única), mas nunca veremos a grande mídia fazendo uma campanha nesse sentido; muito pelo contrário, como podemos ver no sucesso de músicas e danças que pregam a promiscuidade, entre outros anti-valores. O autocontrole que se dane. O negócio é ser “vida loka”.

Já a respeito da legalização das drogas, a crença na cartilha da liberação geral encontra problemas. Por exemplo, enquanto uma miríade de empolgados, viciados e/ou intelectuais aplaudia a legalização da maconha no Uruguai, o próprio presidente Mujica, tomando chimarrão, admitiu que não sabia ao certo o que estava fazendo. “É um experimento sociopolítico frente a um problema tão grave como é o narcotráfico.”, disse[3]. O certo é que uma boa parte dos uruguaios não está gostando de ser cobaia desse experimento. Afinal, os efeitos nocivos de qualquer droga para uma sociedade são inquestionáveis[4]. Um dia desses, eu tive um debate pela Internet com um ativista que defendia a liberação da maconha se utilizando de uma analogia com as frituras: “Mesmo se a maconha for prejudicial à saúde, o governo não deveria impedir as pessoas de usá-la. Afinal, fritura faz mal e nem por isso o governo proíbe a pessoas de comer fritura”. Perguntei a ele se algum dia ele tinha ouvido falar de alguém que roubou os objetos de valor da casa dos pais ou cometeu crimes para aplacar o vício em fritura. Para não falar mais absurdos, ele não respondeu.

Diferentemente do que alegam os defensores da supremacia da liberdade individual, nunca o prejudicado é apenas o usuário. Bandidos se drogam no intuito de cometer assaltos e homicídios; pessoas morrem em decorrência de motoristas embriagados; famílias veem seus filhos se degenerando em todos os sentidos, muitos dos quais passando a cometer crimes apenas para manter o vício. Sobre esse último exemplo, é bastante sabido, ainda que muitas vezes esquecido, o fato de que o consumo de drogas não só alimenta organizações criminosas, como também transforma os usuários nos próprios criminosos, como relata a socióloga Alba Zaluar: “(...) a separação entre traficante e usuário, sombreada pelas leis pouco claras, torna-se tanto mais difícil quanto mais obcecada pela droga a pessoa é. Hoje, é fato aceito que a necessidade de pagar ao traficante leva o usuário a roubar, assaltar e algumas vezes a escalar o seu envolvimento no crime”. Não duvido que ele cometeria os mesmos crimes para pagar a uma eventual farmácia autorizada pelo governo a vender maconha.

Porque existe tanta gente que tem fé numa política de legalização que pode incentivar o agravamento da situação? Ou eles têm certeza de que essa solução é salvadora e vai resolver o problema do narcotráfico? Não acredito nessa certeza, mas acredito que a fé nessa solução pode cegá-los para a possibilidade de consequências desastrosas. Acredito que qualquer tipo de mudança significativa na legislação de um país, feita sem cautela, deveria ser acompanhada pela responsabilização a respeito de eventuais consequências nefastas dessa decisão. Seria uma forma de proteger uma nação de ideias idiotas que nascem da cabeça de eventuais porra-loucas ocupantes de cargos no poder, como é o Mujica.

Uma das formas de combater um câncer é o matando de fome. Sem o dinheiro dos usuários viciados, o narcotráfico morre. É simples. Deveria existir uma penalidade maior para quem usa drogas, pois, além disso, todo usuário é um traficante em potencial. A penalidade deve cair sobre os usuários e ela não deve vim apenas via jurídica. Todo usuário deve ser visto socialmente como um imbecil manipulado pelo narcotráfico, mas não elogiado ou ter sua atitude minimizada em várias mensagens midiáticas de apologia às drogas.

Deveria existir um controle maior em relação aos valores que os jovens estão recebendo, um controle exercido por suas famílias e nas escolas. Nesse sentido, o preconceito que existe a respeito do mundo das drogas deve ser exaltado e quanto mais ele existir na sociedade, especialmente entre os jovens, melhor, pois mais longe eles ficarão desse mundo. Quando todo jovem pensar que ser um “velho careta” é, na verdade, ser adepto do uso de maconha e de outras drogas, saberemos que estará tudo bem.





[1] Dilma Rousseff defendeu o aborto generalizado durante uma sabatina da Folha de S. Paulo em 04/10/2007, um discurso que foi alterado posteriormente em 2010 durante debates poucos dias antes das eleições, provavelmente feito apenas para ficar bem na opinião pública.
[2] A música "Libera Geral" foi lançada em 1997.
[3] Leia a matéria “Os efeitos internacionais do 'experimento' uruguaio com maconha” publicada em 11/12/2013 no site da BBC Brasil.
[4] O argumento que se utiliza de eventuais benefícios medicinais da maconha perde a força diante dos infindáveis malefícios que a mesma droga pode trazer para a saúde, como surtos psicóticos, problemas de memória, problemas de aprendizado, disfunção sexual e alguns tipos de câncer.

sexta-feira, junho 21, 2013

Sete falácias de um movimento

Eis, abaixo, as falácias e as devidas explicações. Vamos ser realistas. Acorda Brasil!

1. O movimento representa a vontade do povo.
Ainda que estivessem todos lutando por uma mesma causa – o que não é verdade - se vivemos numa democracia, povo só pode ser considerado povo se for maioria. Analisando a quantidade de pessoas nas ruas em comparação com o número total de brasileiros, a forma como o movimento está sendo feito só é defendida por uma pequena parcela da população brasileira. Ou você acha que a maioria dos brasileiros é contra a Copa do Mundo ou a favor da falta de organização nesses protestos? Fora isso, diante de relatos da mídia e de representantes do “movimento”, percebe-se a presença majoritária de estudantes de classe média. A massa pobre e trabalhadora, maior parte de nosso povo, não participa disso.


Crédito: http://veja.abril.com.br/
2. A violência não é provocada por manifestantes.
Essa falácia foi, inclusive, criada pelo jornalismo da televisão aberta, incluindo a Globo, que ultimamente vem repetindo ela exaustivamente, em todas as ocorrências de destruição e desordem. A tentativa é de desqualificar os vândalos como manifestantes. Ainda que seja uma pequena parcela dos manifestantes que destruam lojas, pichem patrimônio público ou queimem carros de emissoras, essa parcela não deixa de ser classificada como manifestante. Além disso, o discurso da mídia entra em contradição quando fala em "pequeno grupo de vândalos" ao mesmo tempo em que se observa 50 ou 100 pessoas envolvidas nos atos de violência. Afinal, 1% de 100 mil, que poderia – pela lógica desses discursos midiáticos – ser considerado um “pequeno grupo”, equivale a mil pessoas. E desde quando mil pessoas é um “pequeno grupo”?

3. O gigante acordou. 
Na verdade, o gigante emburreceu de vez. A maior prova de burrice coletiva foi ontem (20/06), com a ilusão generalizada de que o país vai melhorar por simples revolta emocional e indignação sem uma pauta clara, específica e objetiva. Tenho pena da gente de bem iludida com isso, muitos amigos meus.

4. O movimento vai resolver tudo.
Mera ilusão. Se analisarmos os resultados obtidos, comparados com as infindáveis demandas contraditórias dentro do movimento, chegamos à conclusão de que, até agora, nenhuma delas foi resolvida (o que é de se esperar de um movimento que nem sabe o que quer, de fato). Afinal, como resolver dezenas de problemas genéricos de uma vez só? É o mesmo que choramingar pela existência de coisas ruins no mundo sem se concentrar nas causas dessas coisas ruins. Como averiguar, por exemplo, que acabou a corrupção no Brasil? Exigir o fim da corrupção – só para citar uma das infindáveis demandas genéricas – obviamente, independe de decisões governamentais, principalmente ao se saber que a origem da corrupção está dentro dos próprios costumes brasileiros, como visto em vários estudos sociológicos ou mesmo vivenciando essas coisas em esferas que não tem nada a ver com a política partidária, como, por exemplo, em nossas famílias, em diversas relações comerciais ou mesmo em nossas universidades. A corrupção vem do povo, pois os políticos também vêm do povo e ainda votamos neles. Na verdade, até agora o movimento causou apenas destruição material, caos e vários feridos na grande maioria das manifestações; e um morto em Ribeirão Preto.

5. O movimento é pacífico.
A despeito da ingenuidade da maioria dos manifestantes (que defendem a manifestação pacífica), a partir do momento em que essa mesma maioria valoriza apenas a quantidade de gente na rua, como podemos ver diante do slogan “Vem pra rua!”, se está sendo, no mínimo, irresponsável e conivente com a desordem e a violência. A exclusiva valorização da quantidade em detrimento da objetividade e da qualidade é visível diante de comentários nas redes sociais e mesmo na mídia: “Foi uma festa da democracia!”, “Foi lindo de se ver!”, “Nunca vi tanta gente na rua!” e coisas do tipo. A estratégia de chamar todo mundo para a rua é falha se a intenção for manter a ordem, pois qualquer um com qualquer ideia na cabeça irá participar e manifestar seus ideais, sejam eles agressivos ou não.

6. O movimento independe da mídia.
Mentira. Os principais slogans utilizados são de propagandas midiáticas da empresa automobilística Fiat (Vem pra rua) e do whisky Johnnie Walker (O gigante acordou). Fora isso, os movimentos se intensificaram drasticamente após as emissoras de televisão aberta, inclusive a rede Globo, se posicionarem favoráveis ao movimento, com ampla cobertura dos protestos. O grito “Sem Violência!” também se tornou famoso e, de forma curiosa, é reproduzido na mesma sonoridade e ritmo, imitando imagens divulgadas constantemente pela Internet e pelas emissoras de televisão aberta. E depois ainda dizem que não são manipulados.

7. O movimento é um movimento.
Por fim, isso nem pode ser definido como movimento. O que chamam de movimento é simples turba, reunião de gente na rua por causas desconexas e conflitantes. Numa mesma massa de gente encontramos pessoas favoráveis aos partidos políticos e desfavoráveis aos partidos políticos; favoráveis à perseguição religiosa e contra a perseguição religiosa; favoráveis ao casamento gay e contra o casamento gay; pessoas contra a corrupção que ao mesmo tempo a praticam; gente favorável pela legalização das drogas e gente totalmente contra a legalização de drogas; pessoas contrárias à inflação e que, ao mesmo tempo, desconhecem as causas de uma inflação. Isso não é movimento: é uma turba contraditória e, não raro, ignorante.

quinta-feira, junho 13, 2013

A inflação e a ineficácia de um protesto

Os recentes movimentos estudantis em São Paulo contra o aumento nas passagens de ônibus têm se mostrado de natureza problemática e ineficaz para seus próprios propósitos. A forma como realizam seus protestos, além de ser rejeitada pela imensa maioria da população que utiliza transporte público, provoca um caos que desagrada não só essa mesma população como também começa a criar uma imagem negativa do próprio movimento. Além disso, não há indícios de que essas ações estejam realmente surtindo efeito na verdadeira causa do aumento: a inflação.

Crédito: www.uol.com.br

O que se percebe é uma minoria - a princípio majoritariamente composta de estudantes – que alega representar os desejos e anseios da maioria usuária de transporte público. Porém, é amplamente reconhecido que essa maioria, apesar de sempre reclamar quando os preços de quaisquer produtos ou serviços inflacionam, parece compreender (ou ao menos pensam compreender) as causas desses aumentos, as quais se encontrariam no complexo mundo do mercado. É comum observar grupos com ideais ditos revolucionários ou esquerdistas se autoproclamarem como defensores dessa maioria fraca, pobre e oprimida pelo sistema opressor, ainda que essa mesma maioria pobre não tenha feito qualquer tipo de pedido de socorro ou delegado poderes de representação para os integrantes desse movimento.

Em nome de uma espécie de justiça social, unem-se aos montes nas ruas por meio de comunicações no mais recente braço do capitalismo (a internet), para interromper as principais vias de trânsito das grandes cidades durante a hora do rush, justamente quando os milhares de trabalhadores da tal maioria necessitada, pobre e oprimida, estão tentando voltar para casa depois de um dia árduo de trabalho. Munidos de uma ilusória superioridade moral como argumento, queimam pneus, agridem policiais, destroem e depredam patrimônio público e privado. Tudo para baixar o preço da passagem.

Percebemos que tais ações sequer arranham as verdadeiras causas do aumento. O preço do tomate aumentou. O preço da farinha aumentou. O preço da gasolina aumentou. Se tudo aumentou, incluindo itens diretamente relacionados à manutenção do transporte público, é esperado que o mesmo acontecesse com as passagens de ônibus. É óbvio que não adianta gritar, queimar e quebrar ônibus. Se o preço de mercado de qualquer item não segue a lógica do grito e da violência, por que seria diferente com a passagens de ônibus? Não é assim que se controla a inflação.

Dessa forma, é plausível afirmar que a continuidade desses protestos, ao menos da forma como está, dificilmente vai gerar o efeito desejado pelos seus participantes. Tudo indica que insistir nisso vai piorar a imagem do movimento perante a população, a qual não parece satisfeita com os problemas e com a violência provocados pelos manifestantes. Além disso, pode-se criar a impressão de que, mais do que resolver o problema, os revoltosos estão mais é querendo aparecer na televisão.

sábado, junho 01, 2013

A ditadura das minorias e os efeitos da espiral do silêncio na maioria conservadora

Por Nestor Burlamaqui

Apesar de parecer contraditória a hipótese de que, mesmo numa democracia, os valores defendidos pela maioria conservadora estão sendo progressivamente excluídos por uma minoria liberal, essa realidade pode ser facilmente explicada por um processo que envolve a ação de uma nova classe dominante de intelectuais, juntamente com os processos de produção e reprodução de comunicação de massa, além de um efeito social conhecido como espiral do silêncio.

Na sua obra A Rebelião das Elites, o crítico social Christopher Lasch já havia denunciado, nos Estados Unidos, a existência de uma nova classe de intelectuais no poder, a qual ele denominou de intelligentsia. O autor não esclarece exatamente como essa nova classe subiu ao poder, mas no caso brasileiro podemos situar esse ponto no período conhecido como ditadura militar. Preocupados principalmente com o comunismo armado, os militares brasileiros permitiram que o comunismo teórico, ou marxismo cultural, se proliferasse à vontade nas universidades brasileiras, um fato que explica a atual natureza marxista de alguns cursos, especialmente aqueles da área de humanas. O fato é que hoje existe uma nova elite de intelectuais brasileiros e, como toda elite, ela é minoria. No caso brasileiro, ela também vem criando demônios e suas vítimas, ao mesmo tempo em que se apresenta como defensores dessas vítimas, como paladinos das "minorias excluídas" vítimas de um "sistema opressor", sendo que, contraditoriamente, eles mesmos fazem parte do topo desse sistema.

A lógica da produção de notícias e programas televisivos – e sua consequente divulgação – possui critérios que valorizam o diferente, o chocante, o estranho e o inusitado. Ou seja, no fim das contas, o objetivo é conseguir um nível elevado de audiência para atrair a venda de espaço publicitário, a principal receita das grandes emissoras. Assim, pela própria natureza do material midiático, o qual deve garantir essa audiência, os ideais e comportamentos defendidos com base em obras de ideólogos neomarxistas – os deuses da tal intelligentsia - ganham espaço nos noticiários com facilidade, justamente por irem contra o que pensa a maioria, justamente por tais ideais serem estranhos e chocantes para a maioria e justamente por possuir um forte apelo emocional que evoca a curiosidade, a aversão ou até o medo da maioria conservadora.  Exemplos desses comportamentos e ideais podem ser vistos atualmente na pauta da mídia: ativismo gay, liberação das drogas e o patrulhamento ideológico denominado “politicamente correto”. Todas essas coisas vão contra a corrente da maioria real da população e, por isso, vendem jornais e dão audiência.

Segundo a teoria da espiral do silêncio, quanto mais minoritária a opinião dentro de um universo social, maior será a tendência de que ela não seja manifestada. A princípio, essa teoria não poderia explicar quais seriam as causas para que justamente a maioria permaneça calada diante dos ideais minoritários da intelligentsia. Ocorre que, vendo a ampla divulgação desses ideais na mídia, muitas vezes sendo apoiados por uma ou outra emissora menos imparcial (logo, menos ética), a impressão que a maioria conservadora possui é que esses ideais e comportamentos estão por todos os lados. Ou seja, a mídia, não necessariamente de forma intencional, termina por criar uma ilusão, conferindo à minoria a aparência de maioria, criando uma espécie de “maioria virtual” que existe apenas na mente dos consumidores da mídia de massa, o que inclui todos, tanto os da maioria conservadora – que passam a temer expressar suas próprias opiniões – quanto os da minoria – que acabam sentindo-se mais fortes e confiantes para propagar ideais esquerdistas e comportamentos repulsivos.

Percebe-se, portanto, que é plausível afirmar que existe uma ditadura não oficial das minorias no Brasil. Por meio da mídia, a maioria conservadora é ameaçada por propostas de leis que amordaçam opiniões e põem em risco a liberdade de expressão e, consequentemente, a própria democracia, sendo que, como visto, o amordaçamento já ocorre, ainda que de forma não instituída como lei. Hoje é complicado criticar, por exemplo, o ativismo gay. As próprias pessoas integrantes da maioria, mesmo intimamente concordando com a crítica, alertarão para o risco de se estar cometendo crime de “homofobia”, o mais novo demônio criado pela intelligentsia.  Não se pode criticar usuários de drogas os chamando de “maconheiros”, pois logo se é tachado de preconceituoso. Eles devem ser protegidos de quaisquer críticas, provavelmente para dar legitimidade à legalização de substâncias destruidoras da dignidade humana. Na televisão, o humor deve concentrar-se apenas em piadas de brancos ricos e religiosos, sob o risco de ser processado juridicamente. Podemos fazer piadas do papa, mas é um pecado mortal criticar o comportamento homossexual ou o consumo de drogas. E, assim, o silêncio da maioria aumenta progressivamente e, estranhamente, só os mais corajosos ousam falar aquilo que todo mundo pensa. 

sábado, setembro 08, 2012

A revista Sociologia e o "mau-caratismo" intelectual

Hoje comprei a revista chamada Sociologia. Comprei pensando que seria sociologia, mas era apenas um chamariz  para parecer algo sério. Hoje, no Brasil, o nome sociologia é usado como sinônimo de seriedade. Isso legitima a autoridade de quem quer que seja para defender suas ideologias políticas, econômicas ou sexuais de esquerda. Ciência? Passa longe. Religião? Agora estamos mais perto. Afinal, ciência é imparcial e objetiva. No entanto, os textos da revista não apresentavam nem referenciavam trabalhos científicos sérios, mas sim artigos opinativos claramente orientados pelo pensamento neomarxista. Marx, o profeta. Socialismo, o paraíso ou a terra prometida ou mesmo o messias. Marx era judeu, assim como Jesus. O diabo é o Capitalismo, Estados Unidos, Israel, os banqueiros, os burgueses. Na verdade eles têm mais diabos do que santos.

Ciência? Certamente não. Na revista eles não tentaram nem disfarçar. Deveriam mudar o nome da revista, mas não.

Agora trato resumidamente de alguns temas da edição que comprei:

a) Israel e os infiltrados do Sudão
Era a matéria de capa. A esquerda brasileira insiste em criticar o governo de Israel, apesar de os israelenses não estarem nem aí pro que eles acham, assim como os suecos ou os marroquinos. Grande contradição criticar Israel por adotar medidas que evitam a chegada de africanos ilegais e refugiados vindos do Sudão, ao passo que não dizem uma palavra sobre o que realmente ocorre no Sudão. Imparcialidade? Onde?

No Sudão, tem uma guerra civil de mais de 40 anos, onde os muçulmanos que estão no poder decretaram guerra santa contra os sudaneses cristãos e qualquer outro não-muçulmano. Observadores falam até de genocídio e acusam de ser a pior crise humanitária do século XXI. Então, por que criticar Israel, Revista Sociologia? Por que o mundo olha tanto para Israel e se esquece dos verdadeiros problemas? O que diabos Israel tem a ver com o fato de o governo islâmico do Sudão estar em guerra contra os cristãos?

Quem produziu esses refugiados não foi - nunca - o "autoritarismo" israelense. Resumindo, se não for por pura ignorância intelectual, quem escreveu essa matéria, a Luciana Garcia de Oliveira, acadêmica da USP, é uma grande mau-caráter. Por ser de um grupo de estudos sobre o mundo muçulmano, gostaria de saber por que, nessa mesma matéria, ela não falou nada sobre a guerra, provocada pelo governo islâmico do Sudão, que de fato gerou o problema dos refugiados que estão indo pra Israel. Ora, poderiam ir pra qualquer país. A culpa sempre seria do governo sudanês. Mas não. A culpa é de Israel, que agora tem que dar emprego pros refugiados. Ora, eu quero um emprego e o Brasil não me dá. Porque Israel ia dar um emprego pros africanos? Muito sem noção esses "sociólogos".

b) Morte do Marxismo
Nada demais. Apenas mais uma tentativa (e como insistem) em afirmar a eficácia do marxismo para explicar os problemas das contradições provocadas pelo capitalismo, um de seus demônios (talvez o maior deles). Concordo. Marx, como economista que era, desenvolveu uma análise muito boa sobre o capitalismo. Mas, infelizmente, Marx não era um deus, apesar de tentar ser profeta e muitos acreditarem nisso até hoje. Por isso, o que ele escreveu (uma parte do que ele escreveu) tinha caráter científico.

No entanto, apresentar uma análise do capialismo não habilita ninguém a prever o futuro e dizer que haverá uma revolução onde o povo subirá ao poder e todos os homens serão iguais e será um paraíso (essa é a outra parte que ele escreveu). Sinceramente, seria muito bom isso, mas é pura ingenuidade. Isso aí ignora as bases da própria natureza humana. Os homens não são iguais, por mais que alguns pseudointelectuais acreditem do contrário. Socialismo é muito bom, mas só funcionaria em algumas espécies de formigas ou cupins. Não. Nem com eles.

c) Nova desigualdade entre os homens
Para mim foi muito forçado começar uma argumentação citando um problema de Rousseau para criticar os avançoes da bionanotecnologia. Vou citar a chamada aqui: "Dois séculos e meio se passarem desde que Rousseau escreveu o seu célebre discurso, mas ainda padecemos das mesmas e repugnantes mazelas: contrastes sociais, explorações do humano, devastação ambiental, guerras e destruições."

Na verdade são as mesmas desigualdades. Sempre haverá homens com mais recursos que outros. Sempre haverá homens mais inteligentes que outros. Na verdade, as tais "explorações do humano" são feitas por outros humanos. O mundo não é cor de rosa e politicamente correto. A formação do ser humano na Terra exigiu de seu corpo e, principalmente, de seu cérebro, adaptações que não surgiram necessariamente em um ambiente de igualdade social. Havia perigos. A vida era curta e violenta. Havia riscos. Fome e sede eram comuns.

Os grupos humanos que dominavam uma pequena fonte de água numa região árida não deixaria - em nome do politicamente correto - que outro grupo fosse lá e acabasse com água que os mantinham vivos na região. Se o grupo não fosse bem preparado para defender sua fonte de água, certamente eles morreriam de sede ou teriam que se arrircar e tentar encontrar outro. Nunca fomos bonzinhos com quem não é do nosso grupo. O preconceito existiu e foi muito útil em nossa jornada evolutiva. Por isso hoje existimos. É de incrível ingenuidade tentar acabar com o preconceito na espécie humana. E é um absurdo saber que existem milhares de pessoas tentando fazer isso. Sabem quando vão conseguir? No mesmo dia que implantarem o socialismo ou quando a vaca tossir. Não. Nem nem nesse dia.

Conclusão
Tenho que jogar a revista no lixo. Não. Vou queimar logo.

Não é no Brasil

Com base no sociólogo Mark Granovetter (1978), podemos dizer que o comportamento violento de indivíduos durante algumas manifestações pode ...