sexta-feira, junho 21, 2013

Sete falácias de um movimento

Eis, abaixo, as falácias e as devidas explicações. Vamos ser realistas. Acorda Brasil!

1. O movimento representa a vontade do povo.
Ainda que estivessem todos lutando por uma mesma causa – o que não é verdade - se vivemos numa democracia, povo só pode ser considerado povo se for maioria. Analisando a quantidade de pessoas nas ruas em comparação com o número total de brasileiros, a forma como o movimento está sendo feito só é defendida por uma pequena parcela da população brasileira. Ou você acha que a maioria dos brasileiros é contra a Copa do Mundo ou a favor da falta de organização nesses protestos? Fora isso, diante de relatos da mídia e de representantes do “movimento”, percebe-se a presença majoritária de estudantes de classe média. A massa pobre e trabalhadora, maior parte de nosso povo, não participa disso.


Crédito: http://veja.abril.com.br/
2. A violência não é provocada por manifestantes.
Essa falácia foi, inclusive, criada pelo jornalismo da televisão aberta, incluindo a Globo, que ultimamente vem repetindo ela exaustivamente, em todas as ocorrências de destruição e desordem. A tentativa é de desqualificar os vândalos como manifestantes. Ainda que seja uma pequena parcela dos manifestantes que destruam lojas, pichem patrimônio público ou queimem carros de emissoras, essa parcela não deixa de ser classificada como manifestante. Além disso, o discurso da mídia entra em contradição quando fala em "pequeno grupo de vândalos" ao mesmo tempo em que se observa 50 ou 100 pessoas envolvidas nos atos de violência. Afinal, 1% de 100 mil, que poderia – pela lógica desses discursos midiáticos – ser considerado um “pequeno grupo”, equivale a mil pessoas. E desde quando mil pessoas é um “pequeno grupo”?

3. O gigante acordou. 
Na verdade, o gigante emburreceu de vez. A maior prova de burrice coletiva foi ontem (20/06), com a ilusão generalizada de que o país vai melhorar por simples revolta emocional e indignação sem uma pauta clara, específica e objetiva. Tenho pena da gente de bem iludida com isso, muitos amigos meus.

4. O movimento vai resolver tudo.
Mera ilusão. Se analisarmos os resultados obtidos, comparados com as infindáveis demandas contraditórias dentro do movimento, chegamos à conclusão de que, até agora, nenhuma delas foi resolvida (o que é de se esperar de um movimento que nem sabe o que quer, de fato). Afinal, como resolver dezenas de problemas genéricos de uma vez só? É o mesmo que choramingar pela existência de coisas ruins no mundo sem se concentrar nas causas dessas coisas ruins. Como averiguar, por exemplo, que acabou a corrupção no Brasil? Exigir o fim da corrupção – só para citar uma das infindáveis demandas genéricas – obviamente, independe de decisões governamentais, principalmente ao se saber que a origem da corrupção está dentro dos próprios costumes brasileiros, como visto em vários estudos sociológicos ou mesmo vivenciando essas coisas em esferas que não tem nada a ver com a política partidária, como, por exemplo, em nossas famílias, em diversas relações comerciais ou mesmo em nossas universidades. A corrupção vem do povo, pois os políticos também vêm do povo e ainda votamos neles. Na verdade, até agora o movimento causou apenas destruição material, caos e vários feridos na grande maioria das manifestações; e um morto em Ribeirão Preto.

5. O movimento é pacífico.
A despeito da ingenuidade da maioria dos manifestantes (que defendem a manifestação pacífica), a partir do momento em que essa mesma maioria valoriza apenas a quantidade de gente na rua, como podemos ver diante do slogan “Vem pra rua!”, se está sendo, no mínimo, irresponsável e conivente com a desordem e a violência. A exclusiva valorização da quantidade em detrimento da objetividade e da qualidade é visível diante de comentários nas redes sociais e mesmo na mídia: “Foi uma festa da democracia!”, “Foi lindo de se ver!”, “Nunca vi tanta gente na rua!” e coisas do tipo. A estratégia de chamar todo mundo para a rua é falha se a intenção for manter a ordem, pois qualquer um com qualquer ideia na cabeça irá participar e manifestar seus ideais, sejam eles agressivos ou não.

6. O movimento independe da mídia.
Mentira. Os principais slogans utilizados são de propagandas midiáticas da empresa automobilística Fiat (Vem pra rua) e do whisky Johnnie Walker (O gigante acordou). Fora isso, os movimentos se intensificaram drasticamente após as emissoras de televisão aberta, inclusive a rede Globo, se posicionarem favoráveis ao movimento, com ampla cobertura dos protestos. O grito “Sem Violência!” também se tornou famoso e, de forma curiosa, é reproduzido na mesma sonoridade e ritmo, imitando imagens divulgadas constantemente pela Internet e pelas emissoras de televisão aberta. E depois ainda dizem que não são manipulados.

7. O movimento é um movimento.
Por fim, isso nem pode ser definido como movimento. O que chamam de movimento é simples turba, reunião de gente na rua por causas desconexas e conflitantes. Numa mesma massa de gente encontramos pessoas favoráveis aos partidos políticos e desfavoráveis aos partidos políticos; favoráveis à perseguição religiosa e contra a perseguição religiosa; favoráveis ao casamento gay e contra o casamento gay; pessoas contra a corrupção que ao mesmo tempo a praticam; gente favorável pela legalização das drogas e gente totalmente contra a legalização de drogas; pessoas contrárias à inflação e que, ao mesmo tempo, desconhecem as causas de uma inflação. Isso não é movimento: é uma turba contraditória e, não raro, ignorante.

quinta-feira, junho 13, 2013

A inflação e a ineficácia de um protesto

Os recentes movimentos estudantis em São Paulo contra o aumento nas passagens de ônibus têm se mostrado de natureza problemática e ineficaz para seus próprios propósitos. A forma como realizam seus protestos, além de ser rejeitada pela imensa maioria da população que utiliza transporte público, provoca um caos que desagrada não só essa mesma população como também começa a criar uma imagem negativa do próprio movimento. Além disso, não há indícios de que essas ações estejam realmente surtindo efeito na verdadeira causa do aumento: a inflação.

Crédito: www.uol.com.br

O que se percebe é uma minoria - a princípio majoritariamente composta de estudantes – que alega representar os desejos e anseios da maioria usuária de transporte público. Porém, é amplamente reconhecido que essa maioria, apesar de sempre reclamar quando os preços de quaisquer produtos ou serviços inflacionam, parece compreender (ou ao menos pensam compreender) as causas desses aumentos, as quais se encontrariam no complexo mundo do mercado. É comum observar grupos com ideais ditos revolucionários ou esquerdistas se autoproclamarem como defensores dessa maioria fraca, pobre e oprimida pelo sistema opressor, ainda que essa mesma maioria pobre não tenha feito qualquer tipo de pedido de socorro ou delegado poderes de representação para os integrantes desse movimento.

Em nome de uma espécie de justiça social, unem-se aos montes nas ruas por meio de comunicações no mais recente braço do capitalismo (a internet), para interromper as principais vias de trânsito das grandes cidades durante a hora do rush, justamente quando os milhares de trabalhadores da tal maioria necessitada, pobre e oprimida, estão tentando voltar para casa depois de um dia árduo de trabalho. Munidos de uma ilusória superioridade moral como argumento, queimam pneus, agridem policiais, destroem e depredam patrimônio público e privado. Tudo para baixar o preço da passagem.

Percebemos que tais ações sequer arranham as verdadeiras causas do aumento. O preço do tomate aumentou. O preço da farinha aumentou. O preço da gasolina aumentou. Se tudo aumentou, incluindo itens diretamente relacionados à manutenção do transporte público, é esperado que o mesmo acontecesse com as passagens de ônibus. É óbvio que não adianta gritar, queimar e quebrar ônibus. Se o preço de mercado de qualquer item não segue a lógica do grito e da violência, por que seria diferente com a passagens de ônibus? Não é assim que se controla a inflação.

Dessa forma, é plausível afirmar que a continuidade desses protestos, ao menos da forma como está, dificilmente vai gerar o efeito desejado pelos seus participantes. Tudo indica que insistir nisso vai piorar a imagem do movimento perante a população, a qual não parece satisfeita com os problemas e com a violência provocados pelos manifestantes. Além disso, pode-se criar a impressão de que, mais do que resolver o problema, os revoltosos estão mais é querendo aparecer na televisão.

sábado, junho 01, 2013

A ditadura das minorias e os efeitos da espiral do silêncio na maioria conservadora

Por Nestor Burlamaqui

Apesar de parecer contraditória a hipótese de que, mesmo numa democracia, os valores defendidos pela maioria conservadora estão sendo progressivamente excluídos por uma minoria liberal, essa realidade pode ser facilmente explicada por um processo que envolve a ação de uma nova classe dominante de intelectuais, juntamente com os processos de produção e reprodução de comunicação de massa, além de um efeito social conhecido como espiral do silêncio.

Na sua obra A Rebelião das Elites, o crítico social Christopher Lasch já havia denunciado, nos Estados Unidos, a existência de uma nova classe de intelectuais no poder, a qual ele denominou de intelligentsia. O autor não esclarece exatamente como essa nova classe subiu ao poder, mas no caso brasileiro podemos situar esse ponto no período conhecido como ditadura militar. Preocupados principalmente com o comunismo armado, os militares brasileiros permitiram que o comunismo teórico, ou marxismo cultural, se proliferasse à vontade nas universidades brasileiras, um fato que explica a atual natureza marxista de alguns cursos, especialmente aqueles da área de humanas. O fato é que hoje existe uma nova elite de intelectuais brasileiros e, como toda elite, ela é minoria. No caso brasileiro, ela também vem criando demônios e suas vítimas, ao mesmo tempo em que se apresenta como defensores dessas vítimas, como paladinos das "minorias excluídas" vítimas de um "sistema opressor", sendo que, contraditoriamente, eles mesmos fazem parte do topo desse sistema.

A lógica da produção de notícias e programas televisivos – e sua consequente divulgação – possui critérios que valorizam o diferente, o chocante, o estranho e o inusitado. Ou seja, no fim das contas, o objetivo é conseguir um nível elevado de audiência para atrair a venda de espaço publicitário, a principal receita das grandes emissoras. Assim, pela própria natureza do material midiático, o qual deve garantir essa audiência, os ideais e comportamentos defendidos com base em obras de ideólogos neomarxistas – os deuses da tal intelligentsia - ganham espaço nos noticiários com facilidade, justamente por irem contra o que pensa a maioria, justamente por tais ideais serem estranhos e chocantes para a maioria e justamente por possuir um forte apelo emocional que evoca a curiosidade, a aversão ou até o medo da maioria conservadora.  Exemplos desses comportamentos e ideais podem ser vistos atualmente na pauta da mídia: ativismo gay, liberação das drogas e o patrulhamento ideológico denominado “politicamente correto”. Todas essas coisas vão contra a corrente da maioria real da população e, por isso, vendem jornais e dão audiência.

Segundo a teoria da espiral do silêncio, quanto mais minoritária a opinião dentro de um universo social, maior será a tendência de que ela não seja manifestada. A princípio, essa teoria não poderia explicar quais seriam as causas para que justamente a maioria permaneça calada diante dos ideais minoritários da intelligentsia. Ocorre que, vendo a ampla divulgação desses ideais na mídia, muitas vezes sendo apoiados por uma ou outra emissora menos imparcial (logo, menos ética), a impressão que a maioria conservadora possui é que esses ideais e comportamentos estão por todos os lados. Ou seja, a mídia, não necessariamente de forma intencional, termina por criar uma ilusão, conferindo à minoria a aparência de maioria, criando uma espécie de “maioria virtual” que existe apenas na mente dos consumidores da mídia de massa, o que inclui todos, tanto os da maioria conservadora – que passam a temer expressar suas próprias opiniões – quanto os da minoria – que acabam sentindo-se mais fortes e confiantes para propagar ideais esquerdistas e comportamentos repulsivos.

Percebe-se, portanto, que é plausível afirmar que existe uma ditadura não oficial das minorias no Brasil. Por meio da mídia, a maioria conservadora é ameaçada por propostas de leis que amordaçam opiniões e põem em risco a liberdade de expressão e, consequentemente, a própria democracia, sendo que, como visto, o amordaçamento já ocorre, ainda que de forma não instituída como lei. Hoje é complicado criticar, por exemplo, o ativismo gay. As próprias pessoas integrantes da maioria, mesmo intimamente concordando com a crítica, alertarão para o risco de se estar cometendo crime de “homofobia”, o mais novo demônio criado pela intelligentsia.  Não se pode criticar usuários de drogas os chamando de “maconheiros”, pois logo se é tachado de preconceituoso. Eles devem ser protegidos de quaisquer críticas, provavelmente para dar legitimidade à legalização de substâncias destruidoras da dignidade humana. Na televisão, o humor deve concentrar-se apenas em piadas de brancos ricos e religiosos, sob o risco de ser processado juridicamente. Podemos fazer piadas do papa, mas é um pecado mortal criticar o comportamento homossexual ou o consumo de drogas. E, assim, o silêncio da maioria aumenta progressivamente e, estranhamente, só os mais corajosos ousam falar aquilo que todo mundo pensa. 

Não é no Brasil

Com base no sociólogo Mark Granovetter (1978), podemos dizer que o comportamento violento de indivíduos durante algumas manifestações pode ...