sábado, maio 31, 2008

As super-propagandas do governo

Acredito que seja unânime - dentro da opinião dos homens sensatos e justos - a idéia de que não há nenhuma necessidade de se veicular na mídia essas propagandas institucionais do governo do estado e de alguns municípios, como forma de prestar contas à população. Pelo menos não da forma como essas propagandas são feitas, pois o objetivo de informar e de ser transparente quase nunca é atingido. E mesmo nos casos em que alguma informação é realizada, ela demonstra-se ineficaz. Não compensa os gastos públicos e não informa suficientemente; sempre vindo com muitos elementos emocionais como música e imagens de efeito, com claro cunho publicitário. A cidade, o Estado são umas maravilhas. Não há problemas. Tudo é progresso: "Isso é trabalho!", "Vamo que vamo, vamo em frente!", "Tá embalando!" Sinceramente, não sei em qual lugar do mundo isso é uma prestação de contas à população.

Uma mensagem cujo objetivo é prestar contas dos serviços públicos para a sociedade deveria possuir um caráter puramente informativo. Isso não significa usar o espaço na mídia para apresentar uma lista cansativa das obras realizadas e dos respectivos custos para os cofres públicos. Informar não é ser sisudo e sem graça. Mas também não é para ser o contrário: só mostrar imagens e canções bonitas. Deve-se ter um equilíbrio, cujo maior orientador é a informação de real interesse público. As atuais propagandas - as mais veiculadas pela TV - por exemplo, no lugar de apenas informar o que se tem feito para a população, apresentam conteúdos que requerem altos e desnecessários gastos públicos. Contratam-se agências de publicidade para realizar super-produções com pouca informação útil e muita enrolação publicitária, sem nenhum interesse público real.

É claro que essa prática publicitária já está se tornando uma espécie de ritual ilícito de nosso comportamento político, quase invulnerável aos dispositivos jurídicos instituídos. As leis existentes dão margem para que elas ocorram dentro de limites que por si só já são abusivos. Por exemplo, em 2007 o Ministério Público do Rio Grande do Norte processou a governadora do estado juntamente com outros responsáveis pela propaganda do governo, acusando-os de improbidade administrativa pelo uso de recursos públicos para produção e divulgação de material publicitário que teriam promovido a imagem da governadora. O juiz responsável sentenciou a improcedência do pedido do Ministério Público, negando a existência de improbidade nesse caso. Ora, mesmo que não tenha se caracterizado tal improbidade, já é bastante questionável a própria natureza da publicidade praticada por essas entidades governamentais. O Ministério Público entrou com um recurso contra essa decisão e agora o processo será julgado pelo Tribunal de Justiça, sem prazo definido para que isso ocorra.

Acredito que deveria existir uma lei mais rígida que limite - além do caráter financeiro - as características do próprio conteúdo da mensagem, seja ela divulgada em ano eleitoral ou não. Afinal, qual o motivo dessas músicas, jingles e imagens que pouco refletem a realidade da sociedade? Será que está tudo bem, mesmo? Estamos embalando? Estamos indo pra frente? Isso é mesmo um trabalho que preste?

domingo, maio 25, 2008

“Isso é trabalho!”, “Vamo que vamo, vamo em frente!”, “Tá embalando!”

Não sei porque a cada dez minutos estão passando essas propagandas de municípios e do governo estadual. Talvez seja porque os gestores públicos estão muito preocupados em prestar contas para a população. Deve ser só coincidência isso acontecer em ano eleitoral. Mas será que precisa de tanto gasto e de tanta musiquinha só pra prestar contas?

sexta-feira, maio 23, 2008

A causa de Valério Mesquita

Quarta-feira eu estava passeando pela livraria de um shopping de Natal e vi um livro que lembrou-me de um debate que travei - se não me falhe a memória - em meados de 2003 com o escritor Valério Mesquita. O livro era dele. O título é "Em defesa da fé cristã" e contém diversos artigos publicados nos jornais de Natal.

Peguei o livro e o folheei rapidamente, em busca do artigo que provocou o dito debate: "A causa palestina", publicada no Jornal de Hoje . Encontrei. Estava lá. Mas não tinha a minha "Resposta ao racismo", publicada no mesmo jornal como uma forma de atacar a mensagem divulgada pelo artigo do escritor. Não tinha nem um comentariozinho sobre a pequena confusão que aquele artigo em particular provocou. Depois da minha resposta, o escritor publicou outro pra me rebater: "O censor das arábias", onde ele confessou ter passado maus bocados por causa da minha resposta mas insistiu nos argumentos anti-semitas. Depois dessa, publicaram outro artigo meu: "A outra resposta", que nos dá uma boa visão de tudo o que aconteceu:

A outra resposta
Por Nestor Burlamaqui (nestormedeiros@hotmail.com)

Mais uma vez, retorno a esse jornal para apenas relatar esclarecimentos aos leitores e ao escritor Valério Mesquita, que publicou um artigo demonstrando previsível e saliente incômodo após ler um artigo meu intitulado “Resposta ao racismo”, que já foi motivado por outro artigo dele chamado “A causa palestina”. Enfim, já está se iniciando uma espécie de “bate e rebate” sem fim, nem solução. No entanto, reafirmo que apenas escrevi aquele artigo para fazer cair a mensagem anti-semita mostrada em “A causa palestina”. Afinal, é inaceitável que uma opinião do tipo exposta seja divulgada sem uma contestação de nível.

Percebe-se que em sua tentativa de buscar argumentos contra a política de Israel em relação aos palestinos, o escritor foi infeliz ao atacar todos os judeus do mundo e não apenas a política israelense. Mas, pelo que li em seu revide recentemente publicado, ele fez isso com inocência. Talvez não soubesse que sua mensagem estava sendo anti-semita, apesar do texto mostrar isso claramente. Sua falha foi a generalização, unida à ausência de conhecimento sobre a cultura judaica, além da apresentação de uma estranha e incoerente confusão de argumentos. No lugar de procurar força na história dos conflitos israelense-palestinos, o autor, talvez por descuido, valeu-se de histórias de igreja. Obviamente, a narração bíblica sobre Jesus e sua relação com os outros judeus não possui ligação com o atual problema palestino.

É direito de todos a livre expressão. Não há dúvidas. Tanto que em nenhuma frase de meu artigo anterior afirmei que é injusto opinar contra a política de Ariel Sharon. Aliás, em relação a essa política considerada agressiva, até eu chego a duvidar de sua eficiência. O problema é usar argumentos retirados das escrituras cristãs para tentar apoiar uma atual causa palestina. Isso é claramente incoerente e retira a verossimilhança de qualquer idéia.

Concordo que é um fato histórico irrefutável o caso das perseguições sofridas pelos judeus através de opressões promovidas por outros povos, ao longo dos séculos. Mas insistir em afirmar que esse ou outros tipos de episódios são provocados pela “Divina Providência” é um ato muito simplista e ultrapassado. Algumas pessoas, no lugar de buscarem as verdades científicas e históricas por trás de um fato, acomodam-se em dizer que tal evento acontece ou aconteceu simplesmente porque Deus quis ou quer. Esse tipo de pensamento também faz macular a credibilidade de um indivíduo ou grupo. Sendo assim, é necessária uma maior atenção para evitar esse tipo de coisa. É um cuidado que deve ser tomado tanto pelo produtor quanto pelo receptor de determinada mensagem. Principalmente aquela que será lida, possivelmente, por centenas ou milhares de pessoas.

Uma possível crítica relacionada à crença judaica no futuro Messias não deveria ser mencionada como argumento para apoiar palestinos ou qualquer outro povo. Além de não existir relação de uma coisa com a outra, isso apenas produz mensagens com críticas ao povo e cultura judaica, mas inúteis para defender a causa palestina. Esses descuidos levam a um texto de efeito diferente daquele intencionado pelo autor. Acho que isso aconteceu com Mesquita, já que ele esclareceu, posteriormente, não atacar israelitas.

Para evitar futuros equívocos, é necessário um estudo maior do caso por parte de possíveis formadores de opinião quando se desejar sustentar um ou outro lado através de julgamentos. Às vezes não possuímos muito conhecimento sobre um assunto e acabamos embaralhando argumentos e tópicos desconexos.

Por fim, não é necessário temor ao saber que é descendente de judeus. Tratou-se apenas de uma interessante observação. O importante é o que se pensa e se faz agora. Para encerrar meu artigo, deixo claro meu respeito às opiniões dos outros, mas quando essas mensagens passam algo que a sociedade inteligente rejeita, como a falta de respeito a uma religião ou cultura, sabemos que é necessário fazer algo para que isso seja remediado ou, quando possível, prevenido. Certamente não responderei a possíveis dúvidas sobre esse assunto, no qual prefiro não me estender. Esses problemas são resolvidos melhor com pesquisa e bons livros.


Não é no Brasil

Com base no sociólogo Mark Granovetter (1978), podemos dizer que o comportamento violento de indivíduos durante algumas manifestações pode ...