domingo, julho 24, 2016

Super-heróis abaitolados & semideuses ateus

Recentemente, assisti o filme They Live (1988), uma produção semelhante a Matrix (1999), trazendo um tema parecido com o de vários outros filmes que contestam a realidade do mundo. Isso fez-me pensar em como esses filmes estão alinhados com o que diziam nossos professores do ensino médio: "contestem a realidade, sejam críticos. A geração de vocês é muito conformada!", tentando encaixar-nos no estereótipo do jovem revolucionário segundo o qual todo jovem precisa contestar as normas da sociedade opressora e alienante. Engraçado é que podemos contestar tudo, menos o que o politicamente correto impõe.

Enquanto alguns filmes, famosos e aplaudidos, assumidamente, nos fazem questionar a realidade do mundo e as normas tradicionais de nossa civilização, como Meu passado me condena (1961), Sopro no Coração (1971), O Lenhador (2004), Brokeback Mountain(2005) e Tomboy (2011), outros fazem o mesmo de modo mais ou menos disfarçado, como a maioria dos filmes mais recentes de Hollywood, os quais incluem - aqui e acolá - algum elemento da agenda de um ou de outro movimento social ligado às minorias.

Devo a essa tendência recente de Hollywood a queda na qualidade dos lançamentos, refilmagens e reboots de filmes. Tenho a impressão de que uma das maiores preocupações dos atuais remakes é revisar os sucessos produzidos antes da moda do politicamente correto, adequando-os para a agenda das minorias [1].



Por exemplo, Clash of Titans (2010) apresenta um herói revoltado com os deuses, e que não perde a oportunidade de deixar isso bem claro. Diferente de sua versão de 1981, Perseu aceita os presentes de seu pai divino com grande dificuldade, para deixar claro que os homens podem se virar muito bem sem divindades, uma tentativa patética de agradar o público de ateus e humanistas "esclarecidos". Porém, o próprio é um semideus; e a narrativa não deixa de ser guiada pela influência divina - a despeito do Perseu irritante e reclamão - um indício de que os elementos humanistas tinham apenas intenção de aplacar a intolerância religiosa dos novos preconceituosos [2].

Não precisamos procurar muito por outros exemplos: em 2012, Tarantino fez a refilmagem de Django, o transformando num negro; em 2015, os protagonistas do novo Star Wars eram uma mulher e um negro; em 2016, tivemos um Ghostbusters feminista: mulheres, mochilas protônicas e fracasso de bilheteria. A preocupação dos produtores parece ser fazer um filme de acordo com as demandas de certos ativismos políticos, mais do que realizar uma obra de qualidade, talvez com medo da reação barulhenta - com riscos de sofrer processos - dos censores do politicamente correto, bastante autoritários nos últimos anos. Por exemplo, O Senhor dos Anéis e O Hobbit, obras que não preocuparam-se com isso, foram acusadas de serem racistas por não terem negros em sua narrativa. Também reclamaram muito o fato de que o Capitão América (Capitão América: Guerra Civil, 2016) não sentia desejos abaitolados pelo seu velho amigo; e que o cartaz de X-Men: Apocalypse (2016) fazia apologia a violência contra a mulher.

Infelizmente, nessa turma podemos incluir alguns desenhos animados direcionados para crianças, como podemos ver no surreal e frequentemente doentio Adventure Time ou na falsa inocência de Steven Universo, ambos contendo doses visíveis de homossexualismo (dentre outras coisas mais pesadas), transmitidos pelo canal Cartoon Network. Sim, a personagem Garnet de Steven Universe é uma fusão mágica de duas meninas lésbicas de idade aparente de 13 a 15 anos; e as personagens Marceline e a Princesa Jujuba do Adventure Time foram namoradas no passado, como revelou a dubladora Olivia Olsen. Obviamente, no caso dos desenhos animados, a coisa vai além da ideologia, chegando ao ponto da canalhice, pois tenta empurrar crenças e comportamentos do ativismo gay para crianças e adolescentes sem o consentimento de seus pais.

Embora muitas dessas mensagens - em desenhos e filmes - sejam perturbadoras, incômodas e contrárias à opinião da maioria das pessoas, elas dão lucro, pois seus produtores sabem que o que é chocante é lucrativo - tanto dentro da produção de notícias quanto na lógica mercadológica da mídia em geral: se é polêmico e chocante, chama a atenção e dá audiência. Isso é tão verdade que até a Fox, considerada direitista, sustenta produções como Family Guy e American Dad!, com um humor que critica as instituições tradicionais e ignoram tabus.

Ou seja, não é necessário criar fantasias a respeito de compromissos obscuros de donos de emissoras com uma agenda esquerdista, pois a simples busca desmedida pelo lucro favorece a disseminação das mensagens da New Left. Falo mais sobre isso no texto “O Brasil está mais fascista?”, na obra 20 Polêmicas Brasileiras (2015). 

Além disso, o suporte a essas mensagens ganha apoio quando relaciona-se a aceitação do estranho e do bizarro a um forte indício de esclarecimento, intelectualidade, compaixão e compreensão com a causa dos "excluídos" - as tais minorias. Nada como ser politicamente correto e compreensivo com o sofrimento dos excluídos da sociedade, mesmo quando isso implica ser injusto com os demais. Nada como compreender o sofrimento do protagonista pedófilo em O Lenhador; ou entender o drama de vida de assassinos e traficantes como em Cidade de Deus (2002) e Última Parada 174 (2008), ou como a mãe pode fazer tudo pelo seu filho em Sopro no Coração, inclusive sexo com ele. Igualmente, é muito bom sentir-se altamente esclarecido ao perceber uma analogia entre as ilusões da Matrix e a atual sociedade judaico-cristã burguesa. "Nossa! É a alienação do homem, prevista por Karl Marx!", diz o jovem, entusiasmado e útil, louco para demonstrar seu brilhantismo perante seu professor esquerdista e maconheiro. Se vai contra as normas do status quo, deve ser aplaudido.

Já está mais do que comprovado que as ideias possuem reflexos no mundo material devido a ações delas decorrentes. Mensagens do tipo que procura destruir normas de uma civilização provocam conflitos desnecessários em seu interior, a enfraquecendo de tal modo que não é de se duvidar que outra civilização mais forte a destrua, como podemos ver, recentemente, na Europa, na qual a leniência do multiculturalismo já começa a fomentar o terrorismo islâmico.

O que precisamos fazer é retirar - de mensagens desse tipo - a aura de intelectualidade e esclarecimento que as cercam, desmascarando publicamente a razão pela qual insistem em atribuir tal característica a elas: revolução cultural para a destruição dos valores ocidentais, em moldes semelhantes ao defendido por Antonio Gramsci. Um movimento de fortalecimento das normas tradicionais deve existir para que o efeito dessas mensagens negativas seja minimizado. 

Por sorte, ainda há esperanças, pois o Brasil ainda é um país essencialmente conservador.  A maioria do povão não sabe, nem quer saber do politicamente correto. O conservadorismo brasileiro é tão forte que atinge até mesmo boa parte daqueles que - da boca pra fora - defendem ideais liberais e progressistas. Um indício disso é o fenômeno conhecido como Esquerda Caviar. A maioria dos intelectuais, seus alunos e/ou seguidores apresenta discursos nos quais nem ela mesma acredita, mas - vendendo suas almas - os sustenta para ser aceita dentro do círculo dos “intelectuais esclarecidos”. Os defensores da liberação das drogas abrem uma exceção tão logo seus filhos desejem consumir cocaína. Nenhum dos proponentes da ideologia de gênero ou do kit-gay nas escolas torce para que seu filho seja homossexual. Onde está o orgulho gay nessas horas? Quando vimos os socialistas doando, de bom grado, a maior parte de seu salário para os mais pobres? Até onde vai o feminismo quando a própria filha resolve prostituir-se, “empoderando-se” de seu corpo?

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[1] Recomendo a leitura do texto Marxismo Cultural, de Linda Kimball.

[2] Os novos preconceituosos seriam aqueles que, sem cerimônias, proferem xingamentos contra quem não pensa de acordo com sua identidade política ou ideológica, geralmente atribuindo ao outro as alcunhas de intolerante, preconceituoso, fascista e retrógrado, muitas delas sendo bem mais adequadas para eles mesmos do que para os alvos. Isso nos lembra da orientação de Lênin para com os adversários políticos do comunismo: "Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é”.

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