segunda-feira, janeiro 16, 2017

Quem tem medo do Bolsonaro?

As intensas demonstrações de ódio contra o deputado federal Jair Messias Bolsonaro [1] são evidências de que algo vai mal na mente aberta e descolada de muitos maconheiros, professores universitários e esquerdistas de plantão. Caberia tanto ódio assim num grupo que se afirma como sendo tolerante, aberto ao diverso, ao debate e à pluralidade de ideias? Não suportariam eles a existência de um único político alinhado com o pensamento conservador de direita? O professor Leandro Karnal, por exemplo, teme pronunciar seu nome como se o deputado fosse um terrível vilão do Harry Potter. A análise "profunda" do acadêmico [2] nos denuncia uma coisa: tem muita gente com medo do Bolsonaro.

Por muito tempo, a mídia utilizou-se das posições do parlamentar para expô-lo como um personagem moralista e radical, um estereótipo útil para ser posto como contraponto a opiniões liberais e no intuito maior de gerar polêmica, debates acalorados ao vivo e, essencialmente, audiência e lucro, como poderia testemunhar Luciana Gimenez, apresentadora do Superpop, programa do qual ele já participou algumas vezes. Afinal, todos os canais de televisão são empresas e precisam de audiência para vender espaço publicitário. O Bolsonaro - assim como todo político - tenta ganhar espaço na mídia para melhorar sua atuação eleitoral, e ele foi visto como uma boa oportunidade para que alguns canais explorassem sua imagem.

Geralmente, o deputado é convidado a participar de debates com ativistas do movimento gay, negro ou quaisquer outros adeptos de ideologias da nova esquerda que defendem também a liberação das drogas, as cotas raciais e o kit-gay para crianças a partir dos seis anos de idade. Invariavelmente, os jornalistas e apresentadores o questionam: "Você é racista? Você é homofóbico? Você é machista?", em todas as suas participações. Esse tipo de enquadramento contribuiu para que se cristalizasse, em alguns telespectadores, a imagem de um Bolsonaro ranzinza, truculento, defensor de ditaduras e homofóbico, sendo que essa imagem era apenas o que era útil para a mídia, um personagem a ser usado para atrair audiência.

No entanto, ser contra a obrigatoriedade de aulas de sexualidade (incluindo práticas homossexuais) para crianças a partir dos seis anos não é o mesmo que promover ódio contra homossexuais. Reconhecer que o período do regime militar teve suas vantagens também não é o mesmo que desejar que uma ditadura militar seja implantada novamente no Brasil. E desde quando defender maior punição para estupradores (ver o Projeto de Lei 5398/2014) é o mesmo que promover o estupro!? Talvez isso seja verdade na cabeça da Maria do Rosário (e na de um monte de idiotas úteis). É no mínimo curioso o fato de que uma pessoa que deseja punir com mais força um crime realizado contra mulheres seja considerada machista.

No Brasil, se você for conservador, a imprensa logo lhe classificará como um radical de extrema-direita, um facista xenófobo, um nazista, um maluco digno de credibilidade nenhuma, como nos lembra Arnaldo Jabor, quando afirmou que o Donald Trump era um louco maligno que apenas seria impedido por outros psicopatas que o matassem.

Lembra do Enéas? Eu era criança, mas ainda lembro de como as pessoas divertiam-se quando ele aparecia no horário eleitoral. Para a imensa maioria, o que ele falava não era importante. O que importava mesmo era a aparência cômica: um sujeito de óculos com lentes grossas, barba negra enorme, calvo, e falando numa velocidade incrível devido ao curtíssimo tempo concedido ao seu partido pelas regras do horário eleitoral; um sujeito que tem o "tipo físico para poder ser ironizado", como disse o Leandro Karnal a respeito dos ilustres conservadores brasileiros. Na verdade, Enéas era um intelectual de alta capacidade, que só hoje as pessoas começam a compreender (pelo menos aquelas que conseguem enxergar os indivíduos além da aparência física).

Em novembro do ano passado, a apresentadora do telejornal Hora Um, a jornalista Monalisa Perrone, cometeu uma gafe ao afirmar que Trump e seus eleitores possuíam mantras como "odiamos muçulmanos, odiamos negros nojentos", sendo imediatamente desmentida, ao vivo, pelo colega Fabio Turci, que estava nos Estados Unidos acompanhando o fim da apuração da eleição presidencial. A opinião da jornalista era clara, transparecendo o preconceito e o medo que a imprensa da grande mídia possui a respeito do pensamento conservador. No Brasil, é um medo que aumenta à medida em que a popularidade do Bolsonaro cresce [3]. "Ele deve ser detido, nem que seja por meio de mentiras absurdas", pensam muitos.

Se o Enéas era considerado um maluco desvairado e hilário, o Bolsonaro é um nazista machista que odeia gays. Esses são os personagens que a grande mídia produz, seja para ganhar audiência, seja para tentar parar o crescimento de sua popularidade. Ocorre que, hoje, não é só a grande mídia que tem voz. Temos a internet.

Em 1989, quando o Enéas foi candidato pela primeira vez, a internet inexistia no Brasil, e a grande mídia (a rede Globo especialmente) ditava o que o povo pensava sobre diversos assuntos. Hoje, é diferente. O personagem "Bolsonaro Nazista Homofóbico", criado pelos programas Superpop's da vida, e difundido por alguns comentaristas de televisão, é contraposto por outro personagem: o "Bolsonaro Descolado", mais conhecido como "O Mito" ou "Bolsomito", adorado pelas pessoas, recebido com euforia por uma multidão de admiradores nas cidades onde desembarca.

Segundo a grande imprensa, devemos olhar o Bolsonaro com o mesmo medo que deveríamos ter do Adolf Hitler (como se essa equiparação pudesse ser levada a sério) ou pelo menos com o mesmo medo que o Arnaldo Jabor tem do Trump. Muitos da esquerda gostam de equiparar conservadores de direita ao líder nazista, sendo que eles mesmos adoram assassinos que têm o bônus de serem reconhecidamente avessos ao comportamento homossexual (Che Guevara, Fidel Castro, Stálin e Lenin, por exemplo).

A despeito de como o Bolsonaro é visto pela TV ou pela internet, ele é o deputado mais votado para a Câmara no estado do Rio de Janeiro, um feito que deve-se, acredito, por dois fatores principais: autenticidade e afinidade com a opinião da maioria dos brasileiros, que - assim como ele - possui tendências conservadoras.

Você pode não gostar do que o deputado fala, mas deve reconhecer que pouquíssimos têm coragem de falar o que pensam na frente de jornalistas, da forma como ele fala, expondo-se à todo tipo de críticas. As pessoas gostam de gente corajosa, que fala, sem gaguejar e diante das câmeras, o que elas mesmas pensam, mas não tem coragem de expor por causa da censura do politicamente correto.

A manchete de uma notícia da Folha de S. Paulo, de 25 de dezembro de 2012 revela: "Tendência conservadora é forte no país, diz Datafolha". Embora eu acredite que esse conservadorismo esteja reduzindo por influência midiática [4], é possível que boa parte das opiniões liberais e de esquerda seja apenas fachada. Acredito que elas refletem muito mais uma necessidade de ser aceito em certos grupos do que uma sinceridade com seus verdadeiros sentimentos. Por exemplo, embora muitos digam serem favoráveis à liberação de algumas drogas, dificilmente gostariam de saber que seus filhos estão se envolvendo com elas. Muito embora falem por aí que não há problema algum na aceitação da homossexualidade como algo a se ter orgulho, duvido muito que desejem algo parecido para seus familiares. Dessa forma, o liberalismo moral que surge no Brasil - em muitos casos - seria apenas uma tentativa de aparentar possuir uma cabeça descolada, de parecer inteligente em jantarzinho com os amigos, como diria o filósofo Luiz Felipe Pondé.

Ou seja, sentir asco - ou aparentar senti-lo - diante da ideia de um Bolsonaro presidente da república, faz a pessoa parecer inteligente e esclarecida em alguns círculos da elite intelectual (juristas, jornalistas, escritores e acadêmicos) ou daqueles que pretendem fazer parte dessa elite. Afinal, uma coisa é simplesmente não votar ou não gostar de um político. Outra bem diferente é urinar e defecar em público em suas fotos, ou cuspir no seu carro enquanto ele passa, ou acabar com uma amizade de vários anos porque o amigo gosta do Bolsonaro. Quaisquer fanatismos são problemáticos, seja para quem odeia ou para quem idolatra uma pessoa. Portanto, é bom analisar bem as coisas antes de defender ou atacar cegamente seja quem for.

Logo, tem medo do Bolsonaro quem ainda acredita num Bolsonaro nazista e homofóbico que vai destruir o mundo juntamente com o Trump num holocausto atômico (o Jabor que o diga); e também quem tem pavor de ver assumir no poder uma pessoa que pense conforme a maioria dos brasileiros, alguém que se propõe a defender os valores tradicionais, um indivíduo que ameaça décadas de doutrinação revolucionária esquerdista nos colégios e universidades brasileiras, uma pessoa que coloca a vida de um cidadão honesto acima da vida da bandidagem assassina que a elite intelectual (e a Maria do Rosário) tanto admira [5].

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Notas


[1] Como exemplo, veja a matéria "Bolsonaro é alvo de cusparada e chamado de 'estuprador' em protesto", no site do jornal Estado de Minas, de 28/05/2016.
[2] A declaração do professor Leandro Karnal pode ser vista em vídeo divulgado no YouTube, com o título "Leandro Karnal sobre conservadores".
[3] Bolsonaro já aparece como segundo lugar em pesquisa sobre intenções de voto para presidência da república, em 2018, segundo matéria: "Lula lidera todos os cenários de 1º turno para 2018, diz pesquisa", do site da revista Exame, de 19/10/2016.
[4] Graças a um fenômeno conhecido como Espiral do Silêncio, a aparência que a mídia projeta de que muitas pessoas estão cada vez mais adotando normas liberais (liberação de drogas, casamento gay, descriminalização do aborto etc), faz com que os indivíduos conservadores (a maioria da população) sintam medo de expor o que pensam. O resultado, acredito que seja uma lenta mudança de opinião do conservadorismo para o progressismo segundo a agenda das minorias com forte representação política.
[5] Recomendo a leitura do artigo “Bandidos & letrados”, do filósofo Olavo de Carvalho, no qual ele denuncia como alguns intelectuais brasileiros (os mais ativos), a partir de orientações do Comintern, uma organização comunista internacional, deu suporte ideológico, psicológico, estratégico e jurídico ao banditismo no Brasil. Cito um trecho relevante: “(…) a esquerda, primeiro, criou uma atmosfera de idealização do banditismo; segundo, ensinou aos criminosos as técnicas e a estratégia da guerrilha urbana; terceiro, defendeu abertamente o poder das quadrilhas, propondo sua legitimação como "lideranças populares"; quarto, enfraqueceu a Polícia Federal como órgão repressivo, fortalecendo-a, ao mesmo tempo, como instrumento de agitação; quinto, procurou boicotar psicologicamente a operação repressiva montada pelas Forças Armadas, tentando atrair para ela a antipatia popular."

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