"Brasil tem 12 assassinatos de mulheres e 135 estupros por dia, mostra balanço”, diz matéria da Folha de S. Paulo [1] de 30/10/2017. O problema é sério, mas o jornalista esqueceu de colocar a quantidade de homens que morrem por dia: 156. Ou seja, segundo dados da mesma fonte [2] (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), morrem 13 vezes mais homens do que mulheres por homicídio no Brasil.
Alguém pode falar que a maioria dos culpados pelas mortes das mulheres pertence ao sexo masculino. No entanto, fazer isso é demonizar o homem, generalizando como se todos eles fossem assassinos e como se todas as mulheres fossem vítimas, quando sabemos que isso é uma falácia. Além disso, em outros países, esses números seriam inimagináveis, como é o caso dos Estados Unidos. Percebemos, então, que o problema está no comportamento do brasileiro como um todo e não no sexo do indivíduo.
Notícias com esse enquadramento nos fazem esquecer duas coisas: a) a natureza do problema e, consequentemente, b) qual a causa do problema.
Primeiramente, o problema da violência é de todos e não só das mulheres. Enquanto o jornalismo tentar jogar mulher contra homem, negro contra branco e pobre contra rico, continuaremos andando para trás, fazendo campanhas para reduzir a violência masculina e chamando todos os brasileiros honestos de machistas violentos.
Enquanto isso, os verdadeiros culpados não estão nem aí. As quadrilhas de bandidos que fomentam o narcotráfico continuarão aumentando a horda de viciados em seus produtos e ampliando suas práticas criminosas (assaltos, homicídios e latrocínios) para garantir esse mercado. Os usuários invariavelmente acabam entrando no mundo do crime e cometem crimes, incluindo homicídios, para aplacar dívidas causadas pelo vício [3].
A cultura das periferias (favelas e presídios) carioca e paulista — de onde nasceram as quadrilhas mais influentes, já espalha-se pelo Brasil, sendo um indício do aumento de sua influência não apenas na venda de drogas ilícitas, mas também no comportamento das pessoas, as quais cada vez mais adotam valores (ou a falta deles) inerentes ao que chamo de ralé moral brasileira.
Os indivíduos da ralé moral brasileira observam as mulheres como meros objetos sexuais (como é bem visível nas letras de certas músicas do funk carioca e nas danças), têm a ostentação material como objetivo maior na vida e tendem a usar da violência física no lugar de recorrer aos mecanismos sociais — como o auto-controle e a cortesia — que a civilização ocidental criou para reduzir drasticamente a quantidade de homicídios no mundo, conforme relatado por Steven Pinker na obra "Os Anjos Bons da Nossa Natureza: Por que a violência diminuiu".
Em outras palavras, a influência crescente do narcotráfico aumenta não somente comportamentos considerados machistas — tanto entre homens como entre mulheres — como também o número de assassinatos, latrocínios, roubos e assaltos. Nesse sentido, tentar culpar todos os homens pela violência no Brasil ou é uma grande ignorância de nossa realidade ou apenas uma grande falta de caráter.
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[1] Veja a matéria no link: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1931609-brasil-registrou-135-estupros-e-12-assassinatos-de-mulheres-por-dia-em-2016.shtml
[2] Veja o infográfico no link: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2017/10/infografico2017-vs8-FINAL-.pdf
[3] Segundo a socióloga Alba Zaluar, a linha que divide traficantes de usuários é bastante tênue e muitas vezes os usuários escalam sua participação em organizações criminosas.
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