quinta-feira, julho 13, 2006

Da Vinci e as questões cristãs *

Por Nestor Burlamaqui
* Este artigo também foi publicado no Jornal de Hoje.
Muitos cristãos, sejam católicos ou evangélicos, já estavam revoltados e indignados com a mensagem da obra “O código Da Vinci”, do escritor Dan Brown. E a recente publicação do filme baseado no mesmo livro reacendeu a polêmica e a revolta dos mais religiosos. Todos já sabem que o centro dessa polêmica seria um eventual casamento de Jesus com Maria Madalena. Os cristãos simplesmente não aceitam essa hipótese que abalaria as bases do cristianismo: “Imaginem se Jesus fosse casado. O que seria da igreja católica?”. A verdade é que caso isso fosse confirmado, pouco mudaria no cristianismo, pois o fato de Jesus ser pai talvez afetasse apenas a obrigação do celibato dos sacerdotes católicos. Por acaso, é a mesma obrigação que andou causando escândalos sexuais envolvendo crianças nos EUA e alguns casos no Brasil também.

Por isso, a igreja e seus fiéis não deveriam se preocupar tanto com um eventual casamento de Jesus, mas sim com o questionamento sobre a divindade de Jesus, que também é explorado – mesmo que de forma discreta - na obra do Sr. Brown. Na verdade Jesus virou Deus na base do voto durante o Concílio de Nicea, ocorrido em 325 d.C. Na ocasião foram estabelecidas algumas questões referentes ao novo cristianismo estabelecido pelo imperador romano Constantino. É interessante e irônico ver que Roma matou Jesus e depois inventou o cristianismo. Poucos param para pensar nisso. A necessidade de Jesus ser considerado um Deus era importante para que toda a população romana aceitasse a nova religião, pois era comum que até os imperadores tivessem status divino. Então, o cristianismo criado e divulgado por Paulo foi modificado de forma a adaptar-se à crença pagã do Sol Invictus, bastante popular em Roma. Então é por isso que Jesus é considerado até hoje como o Deus encarnado, por causa de uma votação baseada em princípios pagãos. “Se Jesus não for Deus, o que será do cristianismo?”. Essa preocupação certamente é bem mais séria do que o fato de ele ser pai de família e, além disso, é uma verdade que encontra mais fundamentos históricos. Afinal, tudo indica que a divindade de Jesus foi obra da opinião humana. Certamente, nem o próprio Jesus - que era judeu - afirmou isso. No judaísmo, era - e ainda é - um absurdo Deus encarnar num homem. Interessante e incoerente também ver que Jesus, apesar de seguir a religião judaica normalmente, tem como “seguidores” os cristãos, que pertencem à outra religião. E poucos param para pensar nisso.

Já sobre o casamento de Jesus, prováveis defensores da verdade católica podem apontar os evangelhos como fontes que podem contestar qualquer argumento favorável a essa hipótese matrimonial. Porém, o fato de os evangelhos terem sido selecionados e editados por sacerdotes cristãos ao longo dos séculos retira a credibilidade histórica de sua mensagem. Logo, qualquer absolutismo em relação à veracidade do que está escrito nos textos cristãos não passa de fé cega - que é amplamente garantida pela Constituição brasileira - mas que também é obviamente carente de credibilidade. Portanto, em relação à inexistência desse casamento, não poderemos ter nenhuma certeza já que a manipulação dos textos cristãos é um fato. E os indícios históricos que buscam um possível casamento abrem a forte possibilidade de ele ter existido, juntamente com eventuais filhos.

Um comentário:

  1. definitivamente, vc foi brilhante nesta postagem! Concordo contigo... E quanto ao Filme, é uma bela obra de ficção, para quem tem mau gosto. Pior que ela Só "Anjos e Demonios" acho que do mesmo autor.

    ResponderExcluir

Não é no Brasil

Com base no sociólogo Mark Granovetter (1978), podemos dizer que o comportamento violento de indivíduos durante algumas manifestações pode ...