terça-feira, julho 03, 2007

Iniciação sexual precoce: de quem é a culpa?

Por Nestor Burlamaqui

Não é grande novidade que a precocidade infantil em relação à sexualidade pode estar conectada com uma família desequilibrada ou ausente. Com os diversos tipos de mídia (TV, revistas e Internet) servindo como educadora de nossas crianças, em substituição aos pais ausentes, a necessidade de um maior controle sobre esses meios de comunicações vem ganhando uma importância imprescindível para que a situação não fique pior do que está.

Diariamente, vemos jovens meninas maquiando-se, usando roupas justas e decotadas, adotando um visual impróprio para sua idade, apenas para acompanharem a moda ditada pela mídia. Essas mesmas meninas conversam sobre namoro naturalmente, como se fossem adultas. Muitas vezes iniciam a vida sexual aos 12 ou 13 anos e, conseqüentemente, engravidam. A tendência é que esse quadro se agrave. Porém, sabemos que há uns dez ou quinze anos esse comportamento não ocorria com tanta freqüência. “O que está acontecendo?”, perguntam-se alguns pais, preocupados.

Conversando com a gerente de uma banca de revistas em um shopping de Natal, descobri que a maioria das meninas que compram revistas como Capricho e Atrevida - publicações que deveriam ser consumidas por meninas adolescentes – são compradas, quase que exclusivamente, por crianças de idade entre 7 e 11 anos, e não por adolescentes de 15 anos ou mais. A mesma gerente afirmou ainda que os pais dão o dinheiro às meninas sem maiores problemas, como se não se preocupassem com o material que suas filhas lêem. Exemplos das matérias dessas revistas são: “Saiba como agir quando ele faz a maior pressão para transar”, “É normal sentir dor nas primeiras relações sexuais? Descubra já!” ou “8 perguntas sobre masturbação - Acabe de uma vez com todas as suas dúvidas”. Agora eu pergunto: o que esse tipo de leitura provoca na cabeça de uma menina de dez anos? Os pais deveriam refletir a respeito do tipo de informação que seus filhos e filhas estão absorvendo.

Talvez alguns defendam que se trata de orientação sexual. Mas eu questiono se isso não seria mais um incentivo ao sexo. Logo, percebe-se que os pais de hoje estão, na melhor das hipóteses, despreparados. Eles encontram dificuldades em lidar com as recentes normas de comportamento que estão sendo empurradas pela mídia, cujos olhos são guiados sempre pela ganância do mercado. A lógica é simples: se um material considerado impróprio para crianças pode vender mais do que um outro mais adequado, o primeiro é publicado na TV, nas revistas e na Internet sem maiores preocupações com as conseqüências que isso provocará no público infantil. Geralmente, o argumento deles joga a culpa diretamente sobre o público: “Se vende é porque o povo quer”. Porém, há uma palavra mágica que muitos esquecem: responsabilidade. Além dos pais, a culpa certamente é da mídia.

A maioria dos “irresponsáveis” pela programação televisiva não se importa se aquela cena de sexo da novela é transmitida num horário acessível para crianças. O código de ética da radiodifusão afirma que as emissoras devem transmitir entretenimento do melhor nível artístico e moral, considerando que a radiodifusão é um meio popular e acessível a quase totalidade dos lares. Porém, vemos todos os dias na TV cenas de sexo, propagandas desrespeitosas e grupos cantando letras imorais, fora as dançarinas com suas coreografias libidinosas(quem não se lembra da Carla Perez e de sua Bunda Music?) O mesmo código, em seguida, lembra da responsabilidade dos pais ou responsáveis, “aos quais cabe o dever de impedir, a seu juízo, que os menores tenham acesso a programas inadequados, tendo em vista os limites etários prévia e obrigatoriamente anunciados para orientação do público”. O problema é que essa orientação do público através de limites etários inexiste ou, quando existe, não corresponde à realidade.

Nesse cenário, uma possível solução – se ainda podemos sonhar com isso – seria aplicável a longo prazo; e o maior desafio para se atingir um objetivo positivo é justamente modificar o atual comportamento dos jovens através da mudança ou eliminação das normas prejudiciais, que foram se incrustando em nossa sociedade. Por exemplo, atualmente, as meninas entre 10 e 14 anos que não usam roupas sensuais, estão fora da moda e logo são criticadas ou excluídas por suas colegas.

Pressionado por alguns segmentos da sociedade, o governo está planejando, em breve, publicar uma portaria que regulará a classificação indicativa dos programas de TV. É pouco, mas não deixa de ser um passo em direção a uma possível solução ou amenização. Contudo, é preciso ter cuidado para que essa portaria não seja feita do jeito como as emissoras desejam, ou nada mudará de fato. Afinal, o controle da informação é imprescindível. Podem chamar de censura. Eu chamo de bom senso.

2 comentários:

  1. Anônimo9:15 PM

    Muito bom o esse tema, e é um problema essa cultura que é jogada para nós atraves da tv. Por aqui eu tenho acompanhado várias discursões que tem me feito mudar todo meu conceito da mídia desde o programada do faustão até revistas como superinteressante ou a veja. Mas no assunto para as crianças a coisa é mais grave ainda, minha irmã assistem programas americanos no qual a preocupação das meninas só são coisas fúteis e em materia sobre relações sexuais devem ser de total responsabilidade dos pais mas que tem sido deixado o papel pra mídia com todos os seus esteriótipos e casualidades, mas o que mais me intriga e é por causa dos pais é o tratamento diferencial entre meninos e meninas, as proprias mães transformam os meninos em machões e restringem as meninas em certos assuntos. Sua preocupação mesmo, Nestor, se mostrou com a educação das meninas, e os meninos? Estão sendo educados sobre sexo na idade certa? Da forma certa?

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  2. É verdade Camila. O mesmo problema ocorre com os meninos, mas, no caso deles, parece-me que os argumentos são um pouco diferentes e preferi tratá-los em separado. Acho que as normas da mídia, com o aval recebido pela mudança no comportamento das meninas, facilita a forma como eles tratam o sexo oposto, sendo estimulado, cada vez mais cedo, ao sexo.

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