- Esse é o cara! Eu adoro esse cara.– disse o presidente americano Barack Obama para o Lula, durante o encontro G20 em 2009. O carisma de Lula é inegável, mas nem sempre foi assim.
Para agradar a mídia e o público, o Lula teve que fazer alguns ajustes em seu comportamento, pois antigamente, no início de sua carreira política, ele não tinha uma imagem muito agradável. Sua pessoa geralmente era relacionada a um homem truculento e ignorante. Seu linguajar pobre e o fato de ter estudado apenas até a quinta série fazia todos duvidarem de sua competência para governar uma nação. Mas isso mudou.
Na campanha presidencial de 2002 ele adotou uma nova abordagem com o público, uma nova imagem, quase uma transformação de um monstruoso Mr Hyde num refinado Dr. Jekill. Tornou-se o “Lulinha paz e amor”, um político sorridente e conciliador, diferente do Lula agressivo e sisudo das eleições de 1989, quando recebeu de Leonel Brizola o apelido de “sapo barbudo”.
Embalado pelo sucesso da estabilidade econômica brasileira, pela reputação ilibada e pelos sucessos dos programas sociais, foi esse Lulinha paz e amor que recebeu os elogios do Obama naquele abril de 2009, ano em que foi produzido um filme no intuito de elevar ao status de santo a imagem do petista: “Lula, o filho do Brasil”, o transformando num exemplo de vida e superação, quando não numa espécie de messias.
Porém, embora o Obama só tenha dito aquilo mais para ser amigável do que para qualquer outra coisa (lembram do aperto de mão entre Obama e Raul Castro durante a homenagem a Mandela em 2013?) – o elogio do presidente americano já não condizia com a realidade; que nos mostra um Lula contraditório, tão contraditório quanto as personalidades do médico e do monstro.
O sucesso do programa Bolsa Família, tão cantado pelos entusiastas de seu governo e por ele próprio, era na verdade uma criação do governo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, só que com outro nome. Na época de FHC, era chamado de Bolsa Escola. Mudar o nome e ampliar o programa foi um golpe de marketing para ganhar de vez a fama pela criação desse programa. E deu certo. Hoje muita gente pensa que o Lula é o criador desse programa e vai continuar votando no PT com medo de perder a bocada.
Mas essa não é a parte contraditória. Na campanha eleitoral de 1998, o próprio Lula havia criticado a criação dos programas sociais no governo FHC como sendo uma moeda de troca em tempos eleitorais, uma forma de se perpetuar no poder. Hoje quem se beneficie eleitoralmente é Dilma, sua cria política. Sim, ele enganou todos nós.
Ora, se o Lula tinha essa ideia sobre os programas sociais, por que, no lugar de extingui-los, ele os ampliou durante seu governo e até hoje faz campanha publicitária em cima disso?
Mas não foi só a fama dos programas sociais que o governo petista roubou do FHC. A estabilidade econômica (e eventuais conquistas no campo econômico) também é usada como um dos grandes feitos do governo petista. Muitos se esquecem de que o Plano Real (1994) foi implantado durante o governo de Itamar Franco, proposto pelo então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que reuniu diversos economistas no intuito de idealizar o projeto.
No campo econômico, a dívida do governo petista para o antecessor é tanta que, para garantir a vitória nas eleições de 2002, Lula escreveu um documento chamado “Carta ao povo brasileiro”. Nela, dentre outras coisas, ele abandonava o antigo discurso comunista e assumia o compromisso de manter a estabilidade econômica. Tudo para se desvencilhar daquela imagem do sapo barbudo sindicalista esbravejante.
Agora, os entusiastas lulistas e dilmistas pintam os governos anteriores como sendo um mundo de trevas, como visto recentemente numa propaganda divulgada na televisão, no início de 2014.
Essa atitude é previsível, embora represente uma contradição, pois foram justamente as ações realizadas nos governos anteriores que permitiram a atual estabilidade econômica que eles mesmos tanto elogiam. Isso sem falar nos discursos que envolvem os programas sociais, que representam uma contradição maior ainda.
Não preciso, aqui, falar muito a respeito da reputação ilibada do Lula, que recentemente assumiu diante das câmeras que mentia e falsificava dados sobre o Brasil na época em que era de oposição. Basta procurar o vídeo na Internet. É no mínimo revoltante ver o petista dizendo como mentiu descaradamente sobre números de aborto e de crianças-de-rua. O cinismo do ex-presidente petista é incrível. Já que sua desonestidade parece ser motivo de orgulho, tanto para ele quanto para seus seguidores, talvez sejam idiotas aqueles que pensam que ele não sabia nada a respeito do mensalão. Lula mentia; e há vários indícios para que acreditemos que ele ainda mente, principalmente quando algumas pessoas próximas a ele, pertencentes à cúpula do partido, estarem cumprindo pena no Complexo Penitenciário da Papuda, como o ex-guerrilheiro José Dirceu.
Isso é previsível. Ao assumir uma carreira política rumo ao poder, Lula teve que se sujar na lama organizacional que ocupa boa parte da classe política brasileira, demonstrando ainda hoje, e diante das câmeras, um orgulho de ter se sujado. Antes de chegar ao poder, a imagem do PT era limpa (ao menos a imagem). De fato, foi com a ajuda dessa imagem de combatente da corrupção e de amigos do povo que eles subiram. Hoje, no entanto, são comparados a uma quadrilha de ladrões, sendo chamados de “petralhas” aqui e acolá.
Mas pior do que a corrupção praticada pela classe política é a atitude daqueles cidadãos comuns, defensores de Lula e do PT, que no lugar de criticar o próprio Lula, por seus erros, e os membros do partido que se envolveram em corrupção, os aplaudem como heróis vítimas do sistema judiciário, como se os condenados pelo escândalo do mensalão fossem pobres coitados lutando por um país melhor, como se dilapidar o dinheiro público no intuito de se perpetuarem no poder fosse algum indício de altruísmo para com a nação.
Ou seja, o velho slogan relacionado a Ademar de Barros e mais recentemente a Paulo Maluf está bastante vivo na cabeça de muito petista: “O PT rouba, mas faz”. Eles sabem que o partido não presta, sabem que é corrupto, mas o apoia como se fosse composto por santos; e no fim das contas, o Lula não se parece tanto com “o cara” que muita gente pensa por aí.