Caso seus sonhos e expectativas tenham descido pelo esgoto, isso já seria muito ruim, mas não há nada que piore seu humor do que um clima geral de pessimismo e desespero provocado por uma cosmovisão de mundo catastrófica. Não é à toa que hoje muitos estejam deprimidos, neuróticos e desesperados. Deprimidos por não haver esperança, neuróticos para encontrar a felicidade, desesperados em busca do prazer, antes da morte de seu corpo e sua alma.
Nos últimos anos, o que vemos por aí é uma exaltação do mundo científico, no qual a existência de Deus é minimizada, questionada e vista como um delírio da humanidade (como diria Richard Dawkins). Todos seríamos filhos do mero acaso quântico, nascidos sem qualquer propósito, num ponto azul e pálido no meio de um universo infinito, hostil e sem vida; estamos à mercê de um asteróide que pode nos extinguir a qualquer momento; somos apenas o vice-treco do sub-troço, como diria o filósofo Mário Cortella. Esqueça que o ser humano foi criado à semelhança de Deus. Você não é ninguém; quase nada.
Nossa consciência e nossa alma não passam de um amontoado de reações químicas no órgão cerebral, desenvolvido ao acaso durante nossa jornada evolutiva de milhões de anos na Terra. Não passamos de animais, um que teve um pouco mais de azar por ter alcançado um nível de consciência alto o bastante para ver o quanto estamos condenados.
Por fim, muito provavelmente, dentro de três ou quatro séculos, desapareceremos da Terra, aquecida de forma insuportável pelas temperaturas altíssimas do irrefreável aquecimento global provocado pela ação humana.
O mundo não tem sentido, mas não me culpe. Estou apenas repetindo o que a maioria do mundo científico divulga nas mídias, com a ajuda da indústria cinematográfica e de entretenimento (sitcoms, desenhos animados e video games); assim como nos telejornais e sites diversos.
Em meio a essas crenças da atualidade não resta muito espaço para a esperança. Alguns tentam encaixar Deus em meio a essa cosmovisão, afirmando que as recentes descobertas científicas apenas confirmariam a glória divina, pois a existência improvável de uma criatura como como o ser humano, num universo infinito e regido pelo caos, sugerem a existência de uma inteligência criadora. De fato, essa é uma posição confortável e até equilibrada, mas que esquece uma coisa: muitas das descobertas, modelos, teorias e hipóteses que permeiam o mundo científico podem estar equivocados. Obviamente, isso seria resolvido apenas mantendo as descobertas científicas num segundo ou terceiro plano de credibilidade, sem elevá-las ao status de verdades, mas não é isso o que ocorre.
É engraçado que justamente entre os cientistas, os quais deveriam saber que a ciência não produz dogmas, muitos se apeguem a modelos e crenças não comprovados. Por exemplo, muitos hoje têm fé na teoria do Big Bang, embora ela seja apenas uma teoria que, a qualquer instante, pode ser refutada. Acredito que mesmo quando alguém consegue conciliar teorias científicas aterradoras com uma cosmovisão religiosa, esse alguém está imerso em dúvidas e, invariavelmente — especialmente quando a fé não é suficiente — pode cair em pensamentos de desespero e horror.
Esse espírito desolador da atualidade pode ser visto na literatura. Por exemplo, boa parte dos escritores de terror mais influentes (Poe, Shelley e Lovecraft) surgiu numa época em que os antigos paradigmas religiosos e místicos começaram a ser corroídos pelo avanço de descobertas no mundo científico. Por exemplo, nas obras de de H. P. Lovecraft (1890-1937), seus personagens enlouquecem ao descobrirem a existência de seres alienígenas tão poderosos que consideram a humanidade da mesma forma como consideramos uma formiga. A humanidade não será dominada como parte de um plano dos marcianos, mas sim por mero acaso, talvez até sem que nossos aniquiladores o percebam.
Lovecraft era ateu e, ao adotar as teorias de Darwin e Einstein também como base de alguns de seus contos, enxerga um universo sem sentido capaz de causar horror e loucura diante de um mero vislumbre além da ilusão confortável de previsibilidade na qual a maioria dos humanos repousa.
Segundo o consenso científico, a verdade é essa e não podemos questionar. "O universo não tem obrigação de fazer sentido para você", como disse o astrofísico popstar Neil deGrasse Tyson. Basta a você aceitar.
O esquecimento do Tyson a respeito da verdadeira natureza da Ciência (a qual não admite verdades absolutas) é propo$ital. Sim, escrito com um cifrão. Boa parte da mensagem desesperadora que grande parte do mundo científico grita a todo instante serve principalmente para manter cargos, bolsas de pesquisa, equipamentos e prédios de alta tecnologia, como nos lembra o jornalista Tom Bethel. A teoria da relatividade, o heliocentrismo e o darwinismo dão dinheiro pra muita gente.
A moderna relação entre a negação de Deus e o mundo acadêmico criou uma conexão direta e esdrúxula entre ateísmo e esclarecimento intelectual, quando na verdade sabemos que crer peremptoriamente na veracidade de modelos científicos é tão dogmático quanto crer em verdades religiosas. No entanto, os religiosos são mais sensatos no sentido de serem dogmáticos apenas em sua área de atuação: a fé. Alguns acadêmicos são dogmáticos onde isso não cabe: nas universidades.
Diante disso, percebemos que muita gente está lucrando em cima do desespero que aterroriza o mundo, criando ilusões e incertezas na mente dos indivíduos, levando boa parte da sociedade a alimentar medos de coisas que podem ser tão absurdas quanto o bicho papão.