quarta-feira, dezembro 17, 2008

Confraternizações empresariais e dívidas ocultas

As confraternizações são muito legais. Come-se e bebe-se de graça. Tudo às custas da empresa. Nelas podemos observar um comportamento social interessante: o altruísmo disfarçado. Os dominantes (diretoria) oferecem um banquete aos dominados(empregados). Ao oferecer algo para os empregados, os diretores não estão sendo bonzinhos, mas endividando os empregados com algo que eles esperam: cooperação e apego aos objetivos da empresa. O trato é feito e os dominados, ao aceitar o banquete, estão se endividando perante seus empregadores.

Trata-se de uma variação da norma de reciprocidade. Quando recebemos um presente, estamos sendo quase que obrigados a retribuir. Não retribuir significa quebra do ciclo. Ou, na linguagem comum: “Pega mal não retribuir”.

Esse comportamento pode ser encontrado em diversas sociedades. Mas numa delas isso existe de forma bem evidente, chegando a encontrarmos manipulação estratégica por parte de seus integrantes. Como nos diz Jon Elster:

Um caso extremo desse altruísmo ambíguo encontra-se na descrição feita por Colin Turnbull da doação e do sacrifício entre os ik de Uganda:

"Essas não são expressões da crença tola de que o altruísmo é possível e desejável: são armas afiadas e agressivas que podem ter diversos usos. Mas o propósito do presente pode ser contrariado por sua não aceitação. Grande parte da engenhosidade dos ik converge para impedir a pretensa recusa. O objetivo é construir toda uma série de obrigações de modo que, em épocas de crise, tenha-se um número de dívidas acumuladas para serem cobradas; com sorte algumas delas podem ser pagas. Nesse sentido, justificam-se grandes sacrifícios, dadas as circunstâncias de vida dos ik, até o limite de condições mínimas de sobrevivência. Mas um sacrifício que pode ser rejeitado é inútil e, assim, se chega ao estranho fenômeno de que pessoas bastante egoístas em outros aspectos se desviem de seus rumos para ‘ajudar’ outros. Na verdade estão ajudando a si mesmas; a ajuda pode ser extremamente ressentida, mas é oferecida de tal modo que não pode ser recusada, porque, de qualquer modo, já foi dada. Sem que lhe tenha sido pedido, alguém pode lavrar a terra de outro em sua ausência, ou refazer sua cerca, ou participar da construção de sua casa, o que poderia ser perfeitamente feito pelo próprio dono e sua mulher. Certa vez, vi tanta gente cobrindo um telhado de sapê que este quase despencou, e não adiantaram os protestos do dono da casa. Trabalho feito é dívida contraída, uma boa razão para tomar cuidado com o vizinho. Lokeléa sempre foi uma pessoa impopular por aceitar esse tipo de ajuda e recompensá-la, no ato, com comida (o que ele sabia muito bem que não seria rejeitado). Essa oferta negava a dívida" (Turnbull, 1972, p. 146) (8).

Um comentário:

  1. Anônimo7:55 PM

    Sem comentários....!
    ahhh... perde-se a chance de ganhar um conjunto de pratos! kkkkk

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